Corpo do artigo
No seu discurso de tomada de posse como primeiro-ministro da segunda maioria absoluta do PS, António Costa meteu uma "bucha" no que levava escrito. Costa quis afastar-se das maiorias de Cavaco - Sócrates, para ele, já não conta há muito tempo - e tratou de afirmar que a sua era diferente, até porque era de uma geração que tinha "combatido" o poder absoluto dos anos 90. E ele não é homem para confundir maioria absoluta com poder absoluto. Cavaco esperou e, entre um artigo irónico destinado a saudar o Governo de Costa e uma entrevista televisiva, respondeu ao seu rasteiro interlocutor. Em geral, o PS e o Governo contentam-se em evocar Passos Coelho, e a ominosa troika, quando querem empurrar com a pança os problemas que eles agora têm de resolver por força do voto. Costa puxa permanentemente do cuspo para "virar as páginas" da austeridade (Passos), da pandemia e mais recentemente das consequências da guerra na Ucrânia. Em geral, Passos faz as vezes por todos. Mas, ao fim de seis anos, acompanhado ou sozinho, Costa já não tem desculpa para recorrer à sua famosa língua de pau. É da natureza do PS, e dele em especial, garantir apenas uma coisa: a manutenção e a distribuição do poder pela "casa". Cavaco veio chamar a atenção para isto sob dois aspectos. O primeiro, a facilidade que Costa encontrou nestes quatro anos sem oposição, com um PSD praticamente transformado em partido médio e regional, com uma liderança enamorada do PS em vez de lhe fazer oposição total. Cavaco criticou abertamente a liderança de Rio precisamente por ter ignorado que, se existe partido que não quer saber do reformismo para nada, esse partido é o PS. E criticou-o por não ter querido deliberadamente fazer a defesa do Governo de Passos Coelho que teve de resolver a "ressaca", com um plano de assistência económica e financeira exterior, da bancarrota deixada pelo último Governo do PS antes dos de Costa. Por outro lado, Cavaco, sem medo das palavras, colocou a falta de sentido ético no desempenho político geral do PS e dos seus governos. Não lhes chamou amorais, embora tenha exemplificado concretamente com atitudes políticas mais adequadas a partidos com uma visão totalitária e autoritária do exercício do poder do que próprias de partidos democráticos. Com a complacência notarial, por acção ou omissão, do actual presidente, acrescento eu. Cavaco tem os seus governos e a sua presidência a justificarem plenamente a oportunidade das suas palavras num momento em que os reis estão nus. O adversário é o PS e a sua trupe medíocre no Governo, no Parlamento e nos órgãos de comunicação social. Ponto final, parágrafo.
o autor escreve segundo a antiga ortografia
Jurista