A desgraça do CDS merece ser analisada. Sim, a desgraça não ocorreu por causa dos dois curtos anos de liderança de Francisco Rodrigues dos Santos. Pelo contrário, o ainda presidente do partido fez uma campanha notável. Esteve bem nos debates televisivos. O país conheceu-o, finalmente, depois de um boicote abjecto, metódico, movido pela comunicação social, sobretudo audiovisual, em aliança estreita com os "donos" do partido.
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Alguma inabilidade aqui ou ali, como não ter feito um congresso, os absurdos tempos de antena ou "temas" que não interessam minimamente ao país - e a que PSD e CDS se "colaram" com receio do Chega, afinal o grande "amigo" do PS - não explicam completamente o resultado. Temos de recuar a 2 de Julho de 2013. Recuo com facilidade porque estava lá. Nesse dia, o então líder do CDS, e ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, desligou os telefones e fez saber que estava "irrevogavelmente" demissionário. Depois da comezinha distribuição dos "lugares" a que esse líder deu toda a importância no início do XIX Governo Constitucional, enquanto MNE começou a desenvolver uma espécie de "diplomacia económica paralela". Alguns membros do Governo da área da Economia que o acompanharam nessa altura lembram-se bem do exercício, do caricato de certas situações. Da América Latina a África, o homem não parava. Mesmo assim, queria a Economia, de que obteve a "coordenação" enquanto vice-primeiro ministro ex-"irrevogável". O "delegado" escolhido para a Horta Seca era um amável empresário do CDS, que sucedeu a Álvaro Santos Pereira, alguém permanentemente armadilhado no Governo. Passos sacrificou-o porque queria acabar o "programa de ajustamento" em paz, sossego e perspectivas de crescimento. Assim sucedeu, e os drs. Costa e Centeno foram os primeiros beneficiários. A coligação de 2015, com o PSD, ou seja, com Pedro Passos Coelho "deu" quinze deputados ao CDS. Logo a seguir, e a começar pelo antigo chefe, debandaram para novas vidas profissionais uma vez que a "placa giratória", partidária e governativa, estava esgotada. É ver onde estão e o que fazem. Nas legislativas de 2019, sozinhos e altivos, ficaram com cinco deputados. De fora para dentro, os mesmos de 2013-2019 não se pouparam, de lá para cá, por acção e omissão, a apoucar a liderança legítima de Rodrigues dos Santos. Uns demitiram-se, outros fizeram novas juras e alguns papagueiam a sua amoralidade política nas televisões como se não fosse nada com eles. O 2 de Julho de 2013, "uma infantilidade pouco patriótica", nas palavras de Cavaco Silva, levou nove anos a chegar ao CDS. Mas chegou.
Jurista
o autor escreve segundo a antiga ortografia