Celebrações da independência do Brasil no meio da campanha eleitoral
Os calendários ditaram que os 200 anos da independência do Brasil caíssem em cheio no meio de uma truculenta campanha eleitoral. E a polémica adensa-se. Seja porque o programa delineado é considerado pouco ambicioso, seja porque Jair Bolsonaro insiste em aproveitar a data para fins partidários.
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Não é fácil encontrar nos sites oficiais do Governo brasileiro informações sobre o programa das comemorações do bicentenário da independência do Brasil. Todavia, um dos pontos altos desta efeméride será quarta-feira, dia 7 de setembro, feriado nacional que marca a data em que D. Pedro deu início a uma trajetória de separação de Portugal. Este ano, tudo terá outra dimensão. Ao Brasil chegarão alguns (poucos) chefes de Estado. Entre eles, o presidente da República de Portugal, sendo curioso observar com atenção a forma como Marcelo irá interagir com Bolsonaro, depois de este ter suspendido, em julho passado, um encontro entre ambos em Brasília, por saber que o seu homólogo teria uma reunião prévia com Lula da Silva...
Nestes dias de campanha eleitoral, Jair Bolsonaro não se cansa de confundir o seu papel enquanto presidente com o seu desempenho enquanto candidato. Essa simbiose tornou-se a tal ponto perigosa que o presidente do Tribunal Superior Eleitoral foi, há dias, obrigado a restringir uma campanha do Governo para promover as comemorações da independência devido ao material divulgado apresentar uma clara violação à legislação eleitoral. Também os média brasileiros assinalam reiteradamente essa confusão. Esta semana, a revista "Isto É" coloca o tema em capa com o título "Independência capturada". No sábado, na Bahia, numa ação de campanha, Bolsonaro incitou os brasileiros a tomarem conta das ruas na próxima quarta-feira, para uma manifestação ímpar de patriotismo.
Não será fácil o papel dos convidados oficiais estrangeiros nestas cerimónias, quando se virem lado a lado com um presidente-candidato que confunde ostensivamente papéis que deveriam ser separados, sobretudo neste contexto. Os Estados Unidos já anunciaram que vão enviar navios para participar numa parada militar, mas em terra não haverá nenhum representante do país a assistir aos eventos comemorativos. As repetidas e despropositadas críticas de Bolsonaro ao sistema de votação eletrónico suscitam as maiores reservas e despertam o mais incómodo pesadelo em território norte-americano... Os próximos dias adensarão certamente estas, e outras, desconfianças.
*Prof. associada com agregação da UMinho