"Parabéns a não você, por esta data não querida, não há felicidades nem há anos de vida". Talvez seja assim, daqui a uns anos, a letra dos "Parabéns". Mas também não interessa porque, se tudo correr bem, não restará ninguém para cantá-la.
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"Celebrate low birth rates!" é a proposta de uma agência holandesa que aponta o crescimento da população mundial como causador de todos os males (mudanças climáticas, perda de biodiversidade, derrota do Sporting na Supertaça, tudo). Este argumento é tão irrefutável que roça a verdade de La Palice. É óbvio que num Planeta vazio os recursos duram mais. Aliás, basta estar, como eu, na cidade a trabalhar enquanto os outros estão na praia ou no campo, para perceber que é muito mais fácil estacionar e ir às compras (tudo coisas que não devia fazer, a bem da mãe natureza, já sei). Os ativistas holandeses, até à data, espalharam a mensagem com dois cartazes, um em Sintra e outro em Singapura (gastam papel com parcimónia, claro). Não se sabe bem qual o critério, parece que estão a jogar ao "stop" e calhou "cidades com S". Dizem que amanhã vão colocar mais um cartaz, desta feita na Holanda (aposto que vai ser em Sneek). Admiro a ousadia de terem começado pela praia das Maçãs, zona de famílias numerosas. Como quem diz "não podiam ter tido cinco filhos em vez de seis? Era preciso insistir até terem um João Maria para se juntar às irmãs?". Um dos responsáveis pela campanha, Sascha Landshoff, explica que Portugal foi escolhido por ter a mais baixa taxa de natalidade da Europa. Desculpe que lhe diga, Sascha, mas isto foi desperdício de recursos. Vieram pregar a convertidos. Sei que a lógica é celebrar, mas é má ideia. Os festejos implicam sempre dar cabo do ambiente, seja com confetis, serpentinas ou bonitos balões iluminados que vão acabar no oceano, a servir de veneno para golfinhos. Mas confesso que é refrescante vir alguém (ainda por cima de fora, qualidade que valorizamos) dizer-nos que aquilo que fazemos há anos, pensando estar errado, é afinal digno de ovação. Era como se as nossas mães, de repente, nos dessem os parabéns por não fazermos a cama. Atitude que, para os responsáveis da campanha, é com certeza louvável. Se nunca lavarmos roupa, tanto melhor. Aliás, se pudermos respirar menos, o Planeta agradece. Isto é malta que defende a asma brônquica. Segundo um estudo publicado na "Environmental Research Letters" o impacto de não termos filhos é muito superior ao de pequenas ações como usar carro elétrico ou ser vegetariano. Pensando bem, esta campanha é capaz de resultar. Mas ao contrário. Quando as pessoas forem confrontadas com gráficos que mostram que a poupança, por cada bebé a menos, é de 58 toneladas de CO2, enquanto que reciclar corresponde a 0,21, rapidamente deixarão de separar o lixo ou de comer tofu em vez de bife do lombo, por causa daquele documentário das vacas. Para quando um documentário sobre o flagelo que é trazer crianças ao Mundo? Aliás, a própria expressão "dar à luz" já deixa antever gastos desnecessários. Não deixa de ser curioso que se preocupem tanto com a extinção de certas espécies e queiram agora acabar com o Homem. Ao menos punham-nos numa reserva natural! É certo que as crianças consomem recursos com fartura, sejam fraldas, iogurtes ou bonecadas de plástico que usam só uma vez. Mas, e os velhos? Para quando um estudo do impacto ambiental da terceira idade? Se desaparecessem, metade da indústria farmacêutica, arquirrival dos ambientalistas, ia logo à vida. Não percebo porque não começam por aí. Em vez de nascer menos, morria-se mais. Quem sabe se não podem usar os restos mortais para compostagem? E há outra: as crianças são mais bonitas e ficam muito melhor em campanhas ecológicas. Se Greta Thunberg tivesse 80 anos ninguém lhe ligava. Seria só mais uma velha maluca a anunciar o apocalipse. Mas uma coisa reconheço: esta gente tem amor incondicional pelo Planeta. Gostam tanto da Terra que só querem que ela fique bem, mesmo que não esteja cá ninguém para ver. É o mesmo tipo de amor que sentimos pelos nossos filhos. Tentamos deixar-lhes um Mundo melhor, ainda que tomemos medidas insignificantes, como abolir palhinhas. Não temos a grandeza de espírito de quem abdica de ter filhos, contribuindo para o fim da Humanidade e, ao mesmo tempo, para um Planeta mais verde que nunca, em que não há crianças irritantes a pisar a relva.
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Para Sónia Carneiro, diretora da Liga de Clubes, que num debate sobre a nova lei da violência no desporto, registou com pesar o facto de não terem conseguido aprovar uma proposta que permitiria a venda de álcool dentro dos estádios. Lamentável, de facto. Era a forma mais óbvia de acabar com a violência. A dra. Sónia só deve conhecer bêbedos daqueles que se tornam muito carinhosos, abraçam toda a gente e acabam a noite a chorar. O pior é que há um ou outro (muito raro!) a quem os copos dão vontade de andar à pancada.
*HUMORISTA