Foi recentemente apresentada, em Amarante, uma programação ambiciosa para as comemorações do centenário de Agustina Bessa-Luís, cujas atividades terão início em 15 de outubro, data do seu nascimento.
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Mais de cinquenta títulos publicados, entre romances, contos, peças de teatro, biografias romanceadas, crónicas de viagem, ensaios e livros infantis, muitos dos quais traduzidos em diferentes idiomas, e alguns adaptados ao cinema, nomeadamente por Manoel de Oliveira, eis a obra singular de Agustina.
Eduardo Lourenço sublinhou o lugar de relevo que a sua obra funda no panorama das letras nacionais, sendo que, para ele, Agustina, além de incomparável, é a grande senhora das letras portuguesas.
Não sendo uma escritora fácil, pois as suas obras são muitas vezes sobre o insondável da alma humana, a voz literária de Agustina torna-se singular porque parte de uma imaginação prodigiosa, desdobrando-se, depois, em personagens que vão desde aqueles que anonimamente trabalham a terra, a figuras literárias, como Camilo em "Fanny Owen" ou vultos da vida política, como Sá Carneiro em "Os meninos de ouro".
Se a sua vida literária pode ser adjetivada como prodigiosa, a sua vida pública pode ser entendida como insubmissa, pois o seu registo foi sempre o da liberdade. A leitura dos seus textos vai lembrando o perigo de cada um de nós se tornar um mundo fechado. Neste sentido, pode ler-se o seu legado literário e cívico como um incentivo à coragem e à liberdade.
Qualquer que seja o lugar da ação dos seus romances, a imaginação de Agustina volta sempre aos territórios que percorreu e, por isso, justifica-se que nas comemorações se destaque da agenda integrada um conjunto de ações ancoradas no espaço físico e imaginário da autora.
Dito isto, em boa hora a CCDR-N, sete municípios e diversas instituições do Norte se associaram com o objetivo de tornar as comemorações num reconhecimento conjunto da vida e da obra de uma figura de relevo da cultura e literatura portuguesa contemporânea: Agustina Bessa-Luís.
*Docente universitário