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Passa e roda, mas não deixes que queime os dedos. Este é o mantra pós-fuga da Cadeia de Vale de Judeus. Como sempre, ninguém sabe, ninguém viu, ninguém foi culpado. Os sindicatos dos guardas dizem que a culpa é dos deputados, porque ignoraram os avisos para uma “catástrofe”; Rui Abrunhosa Gonçalves, agora ex-diretor da Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais, diz que a culpa é das condições da cadeia e dos guardas; os guardas, obviamente, respondem que a culpa é da falta de operacionais; os políticos certamente vão garantir que a culpa é de todos menos deles, como afirmou a ex-ministra Van Dunem, que desconhecia “quaisquer constragimentos associados" à cadeia de Vale de Judeus enquanto lembra que as torres de vigia até já estavam desativadas antes de ela chegar. Infelizmente, nem sequer aos perigosos reclusos podemos aplicar a culpa de fugir da prisão, porque, como bem lembrou o diretor das prisões, quem está preso só pensa em sair. No fundo, a culpa é da Célia. E perguntam os leitores com sapiência: quem é a Célia? Também não sei, mas certamente haverá por aí uma Célia a merecer ser o bode expiatório desta confusão toda. É uma culpada tão boa como os outros.