<p>Não são precisos dotes de adivinho para afirmar que daqui para a frente PS e PSD vão fazer tudo para bipolarizar a discussão eleitoral. Manuela Ferreira Leite, que já chamara a Sócrates "coveiro do regime", acrescentou que entre ela e Sócrates não há nada em comum que possa garantir a viabilidade de um futuro Governo. José Sócrates já mandou dizer mais ou menos o mesmo e pelas suas últimas intervenções sabemos a conta em que tem a liderança social-democrata. Com o BE a subir e o PP condenado pela utilidade de voto nos sociais-democratas, PS e PSD estão interessados em crispar o discurso e a atitude até ao dia das eleições. E o tom acabará por contagiar os restantes partidos, porque BE, PCP e PP, cada um por suas razões, terão de defender-se desse discurso atacando os dois maiores partidos, os partidos do "sistema", responsabilizando-os pela crise que vivemos.</p>
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Afastado o Bloco Central o que resta? Que exercícios se podem fazer que não concluam que Portugal pode estar a um passo da ingovernabilidade? Estará um partido, qualquer que ele seja, que vença as eleições com quase 40 por cento dos votos disponível para se resignar aos interesses de um partido perdedor? Por quanto tempo? O Bloco de Esquerda, partido que se aproxima de uma posição de charneira, estará disponível para se associar ao PS ou ao PSD (admitindo a disponibilidade destes) para formar Governo? Ou o BE só estará disponível para ir deixando passar propostas no Parlamento, sem estabelecer os limites dessa disponibilidade, ficando senhor do momento em que fará cair o Governo?
Até Cavaco Silva chegar ao poder e governar com duas maiorias absolutas, os Governos portugueses tiveram curta duração e viveram ao sabor de contingências várias. Depois, Guterres conseguiu um difícil equilíbrio que durou uma legislatura, tendo tantos deputados quantos a oposição. Com uma crise pela frente, Portugal precisa de um Governo forte, seja de um partido só, seja de coligação. Só que não se vê no horizonte que coligação será possível. E com o desemprego a bater forte, pré-anunciando uma crise social dura e prolongada como certamente nunca vivemos, o país precisa de um Governo com mão forte que não ceda aos apelos e exigências que virão da rua.
É por isso que, voltando ao princípio, o discurso de Sócrates vai subir de tom. Só o PS, dirá ele, poderá governar o país. E quererá, quererá certamente com cada vez mais veemência, mostrar que o BE só é capaz de criticar e não ajuda a construir. Sócrates vai ter de desmontar o discurso do Bloco, porque é claro que o seu eleitorado ouve o discurso de Louçã. Do lado do PSD, Manuela Ferreira Leite não se dará por vencida e dirá que ainda pode ganhar as eleições, reforçando a tese, já avançada por Paulo Rangel, de que o partido está num caminho ascendente.
Faltam ainda muitos, muitos dias para a decisão final.