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As sondagens publicadas durante a última semana apontam todas para o mesmo cenário: não haverá maioria absoluta, quer ganhe o PS (mais provável), quer ganhe o PSD (menos provável). Pode até acontecer a bizarria de ganhar um deles, mas ser o outro a eleger maior número de deputados (pouco provável).
O empate técnico em que as sondagens coincidem ajuda a aquecer a campanha durante as próximas duas semanas. Mas só por si não tem nada de novo. Significativo é que, em simultâneo, se registe o crescimento de todos os restantes partidos parlamentares: BE, CDU e CDS-PP somam entre 25% e 28% nas sondagens da Universidade Católica, Eurosondagem e Aximage. O que representará cerca de meia centena de deputados na Assembleia da República.
Ao contrário de eleições anteriores, os apelos ao voto útil não estão a resultar. O nivelamento entre PS e PSD está a fazer-se por baixo. Os apelos de Sócrates (à esquerda) ou de Ferreira Leite (à direita) resultarão tanto menos quanto forem publicadas mais sondagens. E se não há hipótese de uma maioria estável, para quê votar nos dois grandes de sempre, perguntarão muito portugueses por estes dias.
É verdade que durante uma campanha eleitoral - e especialmente numa campanha como esta, em que o resultado é incerto -, socialistas e sociais-democratas fazem o que podem para parecer diferentes. Mas no fundamental são parecidos. Nem Manuela Ferreira Leite é uma liberal que pretende desmantelar o Estado Social, nem José Sócrates é um socialista da velha guarda. Para além do mais, o grosso do seu eleitorado é o mesmo, o centro político, pessoas para quem a ideologia conta pouco ou nada.
Outro cenário que as sondagens deixam em aberto é que a composição da próxima Assembleia da República seja das mais fragmentadas de sempre. E pode acontecer que só seja possível obter uma maioria parlamentar com a junção de três partidos (excepção feita, naturalmente, a um Bloco Central). Concretamente com os três partidos de esquerda (PS, CDU e BE).
Um último denominador comum a todas as sondagens é a enorme subida (comparando com as últimas legislativas) do Bloco de Esquerda. Passa a ser o terceiro partido e poderá mais do que duplicar a sua representação parlamentar. O que lhe pode valer a posição de ser o único dos partidos mais pequenos a ter votos suficientes para fazer passar um Governo, se for o PS o vencedor.
Uma possibilidade que colocará Francisco Louçã numa encruzilhada: manter o rumo de uma esquerda de protesto, aguerrida mas inconsequente; ou vender parte da alma e contribuir para encontrar outras soluções políticas e económicas para o país. Uma posição difícil, mas invejável. Que o diga o PCP, que durante tantos anos sonhou com essa possibilidade. Não o conseguindo agora (na verdade ainda podem vir a ser os comunistas a terceira força política), bem pode apontar o dedo ao seu líder. A simpatia pode ser muito útil numa campanha presidencial, mas para legislativas falta garra e capacidade a Jerónimo de Sousa.