<p>O depoimento de Oliveira e Costa, esta semana, no Parlamento, foi dos espectáculos mais lamentáveis que nos tem sido dado ver. De certa forma, aquele homem de idade, perro de movimentos mas lúcido de pensamento, cínico, duro e implacável representava ali o lado mau da nossa vida democrática. As imagens não tinham bolinha vermelha no topo, mas deveriam ter uma qualquer sinalética que advertisse a todo o momento os espectadores menos avisados de que aquele homem está detido, constituído arguido e acusado de sete crimes. Não significa isto que seja culpado, que o que disse seja tudo mentira ou que as pessoas que envolveu sejam inocentes. O problema não é esse. O problema é que é preciso que se saiba que ele pode ter contado mentiras e verdades e meias-verdades também. Que pode ter agido por um rebate de consciência tardio ou em nome da mais pura vingança. </p>
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A curiosidade dos deputados também merecia uma qualquer bolinha para que ficasse certo que nenhum dos perguntadores estava ali a gozar aquela cena decadente, mas que, pelo contrário, estavam no legítimo direito de questionar para apurar a verdade, por mais que o ambiente descontraído, quase de conversa de café, pudesse fazer supor o contrário. Esse legítimo direito não é ainda a Justiça a agir. A Justiça, como é seu timbre, aparecerá mais tarde.
Aos partidos mais à esquerda poderá Oliveira e Costa interessar como símbolo vivo dos podres do capitalismo de casino. Poderá até interessar-lhes explorar ligações, amizades. É mau caminho, mas a política é feita também da exploração da fraqueza dos outros, e a verdade é que o PSD não consegue disfarçar o incómodo de tudo ou quase tudo naquele banco estar entregue a ex-ministros, ex-secretários de Estado, nomes de peso de um anterior PSD. Oliveira e Costa é, para além disso, um bom espécimen para explorar, um homem de condição humilde subindo na vida a pulso, ganhando poder até chegar ao Poder e deixando-se cair em vis tentações. Mas a verdade é que a democracia sai chamuscada com espectáculos destes.
Do mesmo modo, aliás, a vinda a público para explicações do juiz responsável pela entrega da menina russa à mãe biológica é também um desastre. Desde logo porque as explicações são toscas, revelam imaturidade e mostram como a Justiça pode, às vezes, ficar demasiado entregue à ignorância, à falta "de mundo", à falta de conhecimento sociológico e psicológico por parte de quem tem de julgar fenómenos tão frequentes nas nossas sociedades.
P. S.: O prof. Jorge Miranda não merecia que a sua eleição para o cargo de Provedor de Justiça tivesse o desfecho que é conhecido. O PCP, que acusa o PS e o PSD pelo sucedido, terá as suas razões quanto à forma como o processo correu, mas a verdade é que quis ficar ligado à não eleição de Jorge Miranda. Podem os comunistas procurar à vontade que não encontrarão muitas personalidades com o perfil jurídico e humanístico do prof. Jorge Miranda, nem pessoa mais bem habilitada para o lugar. Lamentavelmente, os comunistas não perceberam que elegê-lo era mais importante do que "punir" os partidos seus rivais.