Mário Centeno, ciente das suas habilidades políticas, forçou ontem a corda no Parlamento. Dramatizou porque sabe que nenhum partido político, nem mesmo o Chega, de André Ventura, ou o Livre, de Joacine Katar Moreira, querem criar uma crise política que obrigue a eleições antecipadas por causa de um orçamento à "Ronaldo das Finanças".
O ministro mais poderoso de António Costa disparou em todas as direções a poucos dias do próximo Orçamento do Estado ser submetido ao crivo dos deputados. Ameaçou o PCP de parar o investimento público nos transportes, escolas ou hospitais caso chumbe o documento, e ao Bloco de Esquerda tentou passar a mensagem que, apesar de tudo, 2020 será um ano de mãos largas. O OE "é muito mais progressista, no sentido de conseguir avanços, do que todos os outros", tentou Centeno convencer os seus ex-parceiros de coligação. Já os bloquistas preferiram apelidar Mário Centeno de rolo compressor que passa a ferro outros ministros. Como é evidente, há aqui uma estratégia dentro do Governo de "polícia mau e polícia bom". O drama teatralizado de Centeno no Parlamento contrasta com a bonomia e abertura à negociação do primeiro-ministro e secretário-geral do PS. António Costa ainda este fim de semana repetiu que o Orçamento do Estado é trabalhado "até ao último dia" com todas as forças políticas, principalmente as que estão mais à Esquerda. Aliás, uma das almofadas financeiras do Governo para agradar à antiga geringonça foi ontem revelada pela UTAO, a unidade técnica de apoio orçamental. São 255 milhões de receita que estava "escondida" provenientes de impostos e contribuições não contabilizadas por Centeno de compromissos passados e futuros sobre os rendimentos dos funcionários públicos. O folhetim vai continuar nos próximos dias, o OE2020 vai ser aprovado e a luta vai travar-se no debate da especialidade.
*EDITOR-EXECUTIVO
