Num país pequeno como o nosso, a necessidade de regionalizar não devia ser tão grande. Mas continua a ser, 45 anos após o 25 de Abril. Pelo que as conclusões da Comissão liderada por João Cravinho abrem uma janela de oportunidade para corrigir assimetrias, ou, finalmente, conseguir esmagá-las pela força da Constituição.
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A questão de um novo referendo nem merecia ser colocada se tivéssemos abundância de políticos com sentido de missão e vontade de corresponder às ambições dos eleitores, independentemente da localização geográfica do voto. O problema é que a maior parte dos eleitos esquece-se dos anseios mais básicos dos que neles confiaram, o que, vendo bem, nem é assim tão surpreendente, tendo em conta que há governantes que se esquecem que os próprios pais e filhos têm negócios com o Estado, em circunstâncias que os aconselharia a não exercerem cargos públicos. Ignoram as raízes ou então, ainda mais ridículo, não lhes ocorre consultar a lei das incompatibilidades quando são convidados para o Governo.
De volta à regionalização, o que não podemos aceitar é casos como o do novo aeroporto do Montijo, quando a opção pela infraestrutura existente na cidade de Beja, adaptada e servida por uma rede de transportes à altura, reforçaria uma região desfavorecida e resolveria a asfixia do aeroporto de Lisboa, gastando-se menos dinheiro; nem podemos continuar a permitir situações como as que vivem as populações do interior: em Bragança, por exemplo, o salário médio de um trabalhador, na ordem dos 900 euros/mês, é inferior em mais de 500 euros ao de um compatriota da capital. Feitas as contas, por cada quilómetro que nos afastamos do todo-poderoso centro de decisão lisboeta perdemos um euro, uma multa do centralismo que o resto do país não pode continuar a pagar.
*Editor-executivo