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Neste dia 28 de março, dia Nacional dos Centros Históricos é importante pensar o centro histórico como um conjunto patrimonial de elevado valor para a sociedade. Recordam-se neste dia as orientações de organismos internacionais que propõem métodos e instrumentos que permitem manter as cidades históricas, independentemente da sua dimensão territorial ou populacional, como expressão das sociedades e dos seus valores culturais e espirituais, construídos e consolidados através do tempo e da História. Neste contexto, a conservação do legado histórico é um processo continuo de salvaguarda de valores materiais e imateriais resilientes à passagem do tempo. Os centros históricos são documentos históricos vivos onde permanecem registados testemunhos da passagem e das vivências das sociedades, de homens e mulheres que aqui viveram e que mudaram a cidade. Manter estas expressões vivas e permanecer como documento histórico vivo, significa manter os valores patrimoniais, sociais, económicos, culturais e evitar a ameaça, degradação, destruição que numa cidade histórica pode provir dos mais variados riscos.
Sem receio, é necessário pensar os centros históricos e os seus valores no contexto do desenvolvimento contemporâneo e do crescimento do turismo. Sem receio, é importante olhar o turismo como um enorme auxiliador, um impulsionador da economia, do emprego e da reabilitação nas cidades. Com o crescimento do turismo criaram-se novas oportunidades no mercado de trabalho, reduziram-se desigualdades, promoveu-se a sustentabilidade impulsionada pela forte ligação ao Mundo, cada vez mais intensa e mais próxima, como seria de esperar num processo internacional aberto. Hoje, as cidades apresentam uma existência mais tranquila, mais segura, com mais e melhor oferta de qualidade e de bem-estar. Todos concordamos que a paisagem das cidades mudou consideravelmente e mudou em simultâneo com o desenvolvimento do turismo.
Sem receio, é fundamental refletir sobre os riscos relacionados com o turismo, riscos diversos e com repercussões negativas significativas. Falamos na saída de residentes dos centros históricos, da perda da tão desejada tranquilidade de moradores que vivem e trabalham na cidade, da deterioração física dos sítios históricos, de monumentos e de conjuntos históricos, decorrente do elevado número de turistas, chamado de fenómeno de massificação, a perda cultural que ocorre com a sobreposição da modernização face à identidade, da dependência económica excessiva do setor do turismo, entre outros. Riscos que se transformam em desafios que devem ser geridos com prudência para manter garantir a sustentabilidade dos sítios patrimoniais. Um equilíbrio complexo, mas necessário manter.
Sem receio, é imprescindível refletir sobre esta relação complexa, necessária e inevitável, na qual a perda de equilíbrio e o alcance de excessos permite passar fronteiras que devem permanecer intransponíveis. É fundamental manter um equilíbrio entre a conservação e salvaguarda dos valores históricos e patrimoniais e a oportunidade de bem acolher e de reabilitar a cidade. A base deste equilíbrio será a aproximação e a conexão saudável e sustentável do turismo com a salvaguarda do património histórico. É fundamental que as partes se envolvam em diálogo aberto para encontrar limites e compreender os domínios intransponíveis na gestão dos centros históricos.
Pensar os centros históricos, a reabilitação e a adaptação de elementos patrimoniais às novas vivências são desafios, são oportunidades. Manter o sentido patrimonial e históricos dos lugares e manter o turismo como ativo económico de relevo, impõe tarefas a serem concretizadas com sucesso. É preciso pensar as pessoas e o seu bem-estar não esquecendo o que nos dá valor, o património material e imaterial, mas mantendo o turismo como alavanca do sucesso das cidades.
Não será fácil aos decisores cumprirem todos estes desígnios, mas é inevitável assumirem e decidirem sobre os melhores caminhos a trilhar nesta relação algo instável, mas necessária e inevitável.
*Diretora do Departamento de Turismo, Património e Cultura da Universidade Portucalense