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Representantes do Chega referem-se a imigrantes como ratos ou como “lixo humano”, a mulheres no Parlamento com “desconizar”, a pessoas racializadas com “é preciso uma limpeza” e classificam a morte de um cidadão como “menos um eleitor do Bloco” e, surpreendentemente, isto não foi o mais reles que o partido conseguiu ser. Esta semana, a deputada da nação, vice-presidente do grupo parlamentar e coordenadora da juventude do seu partido, Rita Matias, escolheu investir o seu tempo num vídeo para as redes sociais, em que se mostra a elencar vários nomes completos de crianças matriculadas no Pré-Escolar, enquanto o colega que a filma se ri muito dos nomes que vai escutando, nomes esses que vão ser reconhecidos pelos seus colegas, pela sua comunidade escolar e pelos seus vizinhos. Ora, estamos a falar de crianças de três anos. A ideia, que foi ampliada pelo líder do seu partido no Parlamento nesta sexta-feira, era demonstrar que há nomes estranhos nas escolas. Podiam-me ter perguntado. Eu própria me chamo Cátia Alexandra e sei disso desde que aprendi que Cátia já devia ser suficiente, para quê ainda um segundo nome. Bom, a verdade é que está muita gente chocada com a exposição de crianças por parte deste partido e curiosamente não é pelo facto de encherem a boca com “deixem as criancinhas em paz” sempre que se fala em disciplina de cidadania. Eu relembro que esta deputada é a mesma pessoa que acha que as meninas, mesmo em caso de vítimas de violação, deveriam levar a gravidez até ao fim. Logo, o que é que ainda se espera daqui, exatamente? Defendem as crianças, expõem-nas de formas humilhantes. Defendem as mulheres, e quando o crime que mais aumentou em Portugal é o da violência doméstica, não lhe dedicam um terço do tempo que usam para criar perceções de insegurança. Diz que defendem a família e ainda agora não passaram uma lei que permite a milhares de trabalhadores passar tempo com a sua família ao fim de semana. Diz que quem vem de fora não se integra quando pelos vistos escolhem atacar crianças inseridas em contexto escolar e não permitem a construção de locais de culto oficiais, o que leva à criação de espaços de culto clandestinos. Qual é a alternativa aqui? Os pais ficarem com elas? Então, mas não queremos pessoas ativas e que contribuam para o país? É realmente muito confuso saber o que esta extrema-direita quer. Dá mesmo ideia que só pretende provocar o caos e erradicar a decência. Devia ter logo desconfiado da sua hipocrisia nestes temas porque também são muito contra pessoas que não sabem bem de que género são quando têm um deputado que é Rui mas que também é Cristina.
O que os dados das últimas eleições nos indicam é que, para mais de um milhão de pessoas, nada disto importa. A única mossa negativa que é capaz de gerar, é algum eleitorado do Chega achar que é assim que se escreve moça. De resto, não só não incomoda como para muitos é motivo de orgulho toda esta má- criação. Somos mais exigentes com crianças do que com quem tem o poder de fazer leis neste país.
Quero deixar bem claro aqui uma coisa: há muito tempo que o Chega já não representa o que os portugueses dizem nos cafés, porque eu conheço bem cafés. Não sei quanto a vocês, mas eu vou bastante a cafés e posso-vos dizer que saio de lá muito mais educada: ora aprendo sobre o que raio é o mundial de clubes, ora com uma receita para fazer maionese que nunca falha. Estou farta da imagem que esta gente tem dado a snack-bares, sinceramente. Isto não é o que se diz em estabelecimentos comerciais com serviço de bebidas e refeições rápidas. Isto é o que se diz numa cave húmida onde os neonazis se reúnem para ouvir rock e fazerem tatuagens sinistras uns aos outros. O país enche a boca para exigir, e bem, representantes políticos mais decentes, exemplares e inspiradores e depois 60 lugares do Parlamento são ocupados por pessoas que fazem a jaula dos símios parecer um sítio solene e formal. A continuar assim, não está fora de questão vermos o dia em que abrimos o jornal e lemos "Deputados do chega atiram fezes no hemiciclo"
Por fim, aproveito para deixar aqui uma sugestão para um novo protocolo na Assembleia da República: é possível fazer a chamada antes de uma sessão plenária? Podíamos aproveitar e começar pelo partido dos portugueses Marcus Vinicius, do Gabriel Mithá, o Ricardo Blaufuks, do José Dotti, da Maria Tender, do João Tilly e do Bernardo Cappelle.