Apetece perguntar: para que servem 230 deputados (e mais as suas muitas dezenas de assessores)? Para que serve a Comissão Nacional de Eleições e o seu rol de nomeados?
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Para que serve o Ministério da Administração Interna e a sua máquina de cargos políticos, cargos de nomeação e altos funcionários? Para que serve toda esta gente, que devia zelar pelo ato fundacional de qualquer democracia - o voto -, mas não é capaz de o fazer com competência? Gente incapaz de formular e aprovar regras simples a tempo e horas? Gente incapaz de aplicar as regras em vigor, por anacrónicas que sejam, para que a contagem decorra sem incidentes? Querem respeito? Deem-se ao respeito.
O Tribunal Constitucional decidiu, e bem, mandar repetir as eleições no círculo da Europa, depois de 157 mil votos terem sido atirados ao lixo, numa verdadeira chapelada eleitoral (não interessa se ficava tudo igual em termos de deputados). Mas a história não pode acabar aqui. Mesmo que a maior parte dos partidos esteja a assobiar para o lado (PS, PSD, BE, PCP, IL não acharam necessário pedir a intervenção do TC). Qual era a pressa destes democratas, no Parlamento, como no Governo? Acelerar o salário, os carros, os motoristas, as ajudas de custo, as subvenções? Tudo coisas mais importantes do que ter eleições limpas e livres, como se vê.
A história não pode acabar aqui porque é preciso apurar responsabilidades criminais (o PSD anunciou uma queixa no Ministério Público, mas nem se percebe porque tem a Justiça de ficar à espera de queixa quando o crime é público e grave); e apurar responsabilidades políticas (parece que o PSD aos dias pares aceita votos sem cópia de cartão de cidadão e aos dias ímpares não). Quem misturou nas urnas votos válidos e votos duvidosos (se eram ou não inválidos caberia aos tribunais decidir), arruinando todos? São cidadãos voluntários a que ninguém deu formação? Ou são cabos partidários? Há diferenças óbvias e é fundamental conhecê-las.
Finalmente, e resolvido o problema de legitimidade eleitoral provocado por esta monumental trapalhada (com uma segunda votação apenas presencial, que por isso será um fracasso em termos de participação), fica uma outra questão para os senhores deputados, se forem capazes de usar a cabeça tão bem como gastam o dinheiro dos contribuintes: qual é a razão para 195 mil pessoas (o número dos que votaram no círculo da Europa) só elegerem dois deputados? No círculo do Algarve votaram 194 mil pessoas para eleger nove deputados. Já era tempo de mudar (ou atenuar) esta desproporção.
*Diretor-adjunto