O país tem assistido a episódios sucessivos que alimentam a estratégia política do Partido Chega, de ser notícia permanente e de passar as suas mensagens curtas e simples com a eficácia que normalmente têm as mensagens curtas e simples, afinadas para garantir reações primárias positivas.
Da constante tensão na Assembleia da República com o seu presidente, da tentativa de eleição de um vice-presidente desse mesmo Parlamento, da participação do líder do PSD num sensato apelo para que se resolva a situação de a Assembleia não conseguir eleger dois dos seus quatro vice-presidentes, o Partido Chega vai alimentando o seu radicalismo e colocando mais ouvidos à sua escuta.
E a maré política da Europa vai-lhe de feição. Vejamos os excelentes resultados da extrema-direita em França, onde mais uma vez o presidente Macron é eleito, não pelo seu mérito mas pelo ganho do medo da vitória da alternativa extremista. Na Suécia, a extrema-direita faz um crescimento de 5% para 21%, acedendo ao Governo com um papel relevante. Na Itália, a extrema-direita ganha as eleições e vai liderar o Governo. E o que mais se verá.
O crescimento da extrema-direita em Portugal e na Europa é um dos resultados políticos da incapacidade dos partidos da zona central do espetro político (onde se coloca o PS, o PSD, o PPE e o PSE), não conseguirem ser corajosos e reformistas como os tempos exigem, nomeadamente na organização e eficácia da gestão dos estados, no crescimento equilibrado com justa repartição da riqueza, na implementação de políticas de imigração regradas, planeadas e que garantam uma integração cuidada na sociedade e no mundo do trabalho, segurança e justiça social para todos.
Em Portugal e na Europa, a governação tem trabalhado para o empate, os governos, em vez de honrarem o resultado da eleição anterior, a que os elegeu para governar, jogam no taticismo para tentar ganhar a próxima eleição, provocando o crescimento do descontentamento que alimenta os extremismos, aos quais se reconhecem razões em várias das suas perspetivas, descontando serem curtas e simples, e normalmente de aplicação impossível ou inconsequente.
Para que consigamos fazer definhar o Chega, tem o PS que governar com decisões e realizações úteis para a vida das pessoas, o PSD que se afirmar na liderança da Oposição e como alternativa de Governo, o CDS que sair da penumbra e aparecer na luta política acompanhando a IL, o PCP e o BE têm de voltar a ter alguma relevância na capitalização dos descontentamentos construídos de forma primária.
A sistemática frase, dita por muita gente e com vários formatos, "chega de Chega" não chega para suster e fazer definhar o extremismo e o radicalismo inconsequente e perigoso para a democracia e para as pessoas.
Presidente da Câmara de Aveiro
