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O escândalo da pedofilia desfigurou o rosto da Igreja Católica no dealbar do terceiro milénio da sua história. João Paulo II foi o primeiro a ver-se obrigado a enfrentar a questão, dada a dimensão que o problema assumiu, sobretudo nos Estados Unidos. Os primeiros passos foram dados de forma cautelosa e, ainda, com muita complacência, tanto para com os prevaricadores, como para com os que procuravam encobrir os escândalos.
Bento XVI, perante o que se passou na Irlanda, viu-se obrigado a impor aos bispos de todo o Mundo que estabelecessem diretrizes claras para intervir mal surgissem as primeiras suspeitas de abuso sexual de menores. Apesar disso, continuaram a verificar-se tentativas de silenciar as vítimas e escamotear a realidade - até ao próprio Papa. Foi o que se verificou no Chile.
Por causa dessa situação o Papa viu-se obrigado a pedir desculpa às vítimas. Chamou ao Vaticano todos os bispos do Chile a quem manifestou a sua vergonha pelos relatórios que "certificam pressões exercidas sobre aqueles que deveriam levar por diante a instrução dos processos penais ou, inclusive, a destruição de documentos comprometedores por parte de responsáveis de arquivos eclesiásticos, evidenciando assim uma absoluta falta de respeito pelos procedimentos canónicos e, ainda mais, umas reprováveis práticas que deverão ser evitadas no futuro". Estas palavras foram proferidas logo no início do encontro do Papa com os bispos do Chile, as quais acabaram por ser divulgadas num canal chileno.
Para além de criticar a hierarquia chilena pelo encobrimento dos casos de pedofilia e por não ter sabido lidar com a questão, apelou também a todos que encontrassem formas para reparar os danos causados, sobretudo à igreja chilena, mas também a toda a Igreja Católica. Advertiu que "os problemas que hoje se vivem dentro da comunidade eclesial não se solucionam somente abordando cada caso concreto e ficando-se pela remoção das pessoas: isto - e digo-o claramente - tem de se fazer, mas não é suficiente, tem de se ir mais além. Seria irresponsável da nossa parte não investir na busca das raízes e das estruturas que permitiram que estes acontecimentos concretos acontecessem e se perpetuassem".
Os bispos chilenos entraram num período de reflexão e, no final, decidiram colocar os seus encargos pastorais nas mãos do Papa, para que ele decida os que podem continuar a exercer o seu ministério episcopal. Assim, o Papa poderá decidir os que devem ser removidos, em razão das suas responsabilidades. Fica por fazer a identificação das raízes do problema e como prevenir a sua verificação com a condescendência da hierarquia.
Na verdade, depois do que aconteceu no Chile, dificilmente o episcopado de qualquer país deixará de ser proativo quando as suspeitas de abuso sexual de menores aparecerem. E mais nenhum bispo se atreverá a esconder qualquer informação ao Papa e à Santa Sé.
A pedofilia foi o maior escândalo que afetou a Igreja Católica nos últimos anos. Mas há outras áreas em que seria bom intervir com a mesma decisão e intransigência que se verificou neste caso. Só assim se evitará que o bom nome de tantos católicos seja posto em causa pelos desmandos de alguns criminosos.
* PADRE