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Já tínhamos percebido, durante a pandemia, que os portugueses são especialistas em açambarcar. E se, nessa altura, achamos ridículo encher a despensa com rolos e rolos de papel higiénico, agora é extremamente útil porque garantem que nunca vão andar por aí todos sujos com bigodes de chocolate. Se há quem critique os mais novos por estarem sempre agarrados ao tablet, os mais velhos não estão muito melhor. É capaz de ser mais incompreensível e nociva a obsessão por uma tablete de chocolate. Pelo menos o tablet sempre dá para ir à internet e ver vídeos giros, enquanto o máximo que se pode obter da tablete é meia dúzia de cáries e um princípio de diabetes.
Um chocolate do Dubai é uma receita que envolve chocolate recheado, massa kadaif e pasta de pistachio e o Lidl criou uma versão do mesmo e está a vendê-la por 4,99€. Não deixa de ser irónico ver o Ocidente a fazer réplicas de produtos orientais. Só acho que para termos a experiência completa não deveria ser vendido a 4,99€ mas regateado nas caixas do Lidl. Começava nos 149€ e ficávamos ali a negociar até o senhor atrás que só leva um pão e uma polpa de tomate se passar da cabeça e perguntar porque é que não abrem mais caixas.
Eu vi as imagens das filas à porta dos supermercados e fiquei orgulhosa. A quantidade de pessoas que se juntou na rua a meio da semana com um objetivo comum leva-me a crer que Portugal só não avança porque não quer assim tanto. É que foram muitos os que levaram para casa paletes de chocolates para venderem no Olx a 60€ cada um. E se isto não é visão, se isto não é ambição, eu não sei o que é. O português médio não entende muito bem isso de investir em criptomoedas ou noutras coisas dessas que não se veem. Agora, em produtos de supermercado não brinquem connosco. Como estes chocolates estão esgotados em todas as superfícies comerciais, tornaram-se tão raros e tão caros que há pessoas que só aceitam ser pedidas em casamento se lhes puserem um quadradinho na mão. Já dizia a Beyoncé: “’Cause if you like it, then you shoulda put a chocolatinho on it”. A única coisa que me preocupa é que esta pancada por um chocolate mais tarde ou mais cedo é capaz de resultar em pancada no corredor das guloseimas.
Quem não deve estar muito feliz com tudo isto são os mais nacionalistas, que estão há imenso tempo a dizer “árabes fora daqui” e agora veem estas pessoas todas a querer levar um para casa. Podemos dizer que os árabes querem vir para cá dar cabo do nosso regime, sim, mas do regime alimentar. E cheira-me que até vão conseguir que as nossas mulheres andem todas tapadas, mas é porque a operação biquíni este ano já foi para o galheiro.

