O programa da União Europeia, lançado esta semana no Porto pela ministra Ana Mendes Godinho, para requalificar profissionais no desemprego ou em profissões em risco, e que permite o desenvolvimento de competências em áreas com maior procura de trabalhadores qualificados, é um excelente passo para vencer um grande desafio que aí vem, com a dupla transição digital e climática.
Corpo do artigo
Estima-se que, na Europa, 51 milhões de empregos estão em risco por causa da automatização, e um estudo da consultora McKinsey refere que entre 40 e 160 milhões de mulheres vão ter que mudar de ocupação até 2030, devido às mudanças tecnológicas no mercado de trabalho.
O programa, que se chama PRO_MOV by Reskilling 4 Employment (R4E), vai também ser lançado na Suécia e na Espanha, talvez não por acaso por governos de maioria socialista. Tem dois pontos muito positivos: primeiro, foi desenhado com a indústria, neste caso com uma associação que junta cerca de 60 das maiores empresas europeias; segundo, para além do Instituto do Emprego e da Formação Profissional (IEFP), envolve as próprias empresas no seu desenvolvimento, no nosso caso, para começar, a Sonae e a Nestlé, e a seguir várias outras empresas como a EDP, a SAP, a Delta Cafés, a Salvador Caetano e a Sogrape. Entre as áreas prioritárias de atuação estão o digital, a economia verde e várias especializações para a indústria com formação prática em contexto real de trabalho.
Este é na verdade um problema desafiante. Todos nós somos capazes de recordar uma das profissões que vimos desaparecer, das lavadeiras do rio às datilógrafas ou telefonistas dos escritórios, sem que tal fosse causa de convulsões sociais. O problema é que esse desaparecimento pode agora atingir muito mais pessoas ao mesmo tempo em diferentes profissões.
Não serão apenas as profissões menos qualificadas a ter de se requalificar, mas também outras, como os médicos, os juristas e os engenheiros. Só que para os mais qualificados será mais fácil a reconversão do que para outros que o não são. É sobretudo com estes, onde a maioria são mulheres, que nos devemos desde já preocupar, como acontece neste programa. Com os dados que já temos, podemos fazer previsões relativamente rigorosas e localizar as pessoas cujos saberes é preciso reconverter, e até para quê.
Só desse modo a formação contribuirá para uma recuperação sustentável e para a resiliência das pessoas, quando confrontadas com os choques profissionais que aí estão já a chegar. Por isso mesmo, esta iniciativa do Governo e das empresas que nela se envolveram, prevenindo um problema emergente, em vez de mais tarde o ter de remediar à pressa, merece mesmo um grande aplauso, com um forte desejo que seja bem-sucedido.
Eurodeputada do PS