O tema é cíclico e ciclicamente mal explicado. Aliás, as explicações sobre tudo o que diz respeito à educação neste país são tão tortuosas e tão pretensiosas que o melhor é não lhes prestar grande atenção.
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É suposto que, pelo menos, os 12 anos da nossa escolaridade obrigatória sejam uma experiência progressiva onde a fase seguinte vive do que se aprende na fase anterior.
Sem saber ler não posso aprender história ou literatura e sem saber contar não posso aventurar-me na matemática. A Física, a Biologia ou uma qualquer língua estrangeira pressupõem um caminho de saber acumulado e contínuo. Camões, o algoritmo de Euclides ou a Revolução Americana não nos entram pela cabeça adentro por geração espontânea.
E como este caminho, contínuo e progressivamente mais complexo, tem de ser feito num determinado espaço de tempo, é normal que se estabeleçam metas para aferir a passagem de um nível para outro. Do mesmo modo, é igualmente normal que nem todos as consigam ultrapassar ao mesmo tempo. Ou seja, que chumbem. É simplesmente normal.
Não é um estigma, não é um custo, não é uma discriminação. É (tem de ser) o resultado de uma avaliação objetiva.
Por que razão se faz tamanho alarido sobre este tema tão bem resolvido há décadas sem efeitos colaterais significativos?
O problema neste país não é o número de alunos que chumbam, mas aqueles que não vão ou que deixam a escola prematuramente.
Como sempre, a solução está do lado mais difícil. Garantir que se ensina melhor, que se desafiam e se entusiasmam com mais garra os nossos miúdos.
E, para isso, é simplesmente preciso libertar os professores da inenarrável carga burocrática e administrativa que os consome e devolver-lhes a autoridade que sempre tiveram e que sempre usaram com dignidade.
Mas, para não variar, adorna tudo para o lado mais fácil e mais propagandístico num discurso oco e insensato.
Lamento que tudo isto me faça pensar com certa nostalgia no meu velho livro da 4.a classe. E não devo ser a única!
*Analista financeira