Afinal, o que é que preocupa os portugueses? Sendo português, estou um dez milhões de avos habilitado a responder a esta pergunta.
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Estou certo que me importa a saúde, que vai bem, e a economia, que embora tenha sofrido um abalo a rondar um quarto do rendimento, ainda me permitiu continuar a viver no conforto de quem não tem de contar quantos dias tem o mês até ao fim do ordenado. Ora, parece-me evidente que nenhum dos portugueses que nos últimos tempos tem falado em nome de todos os portugueses vive em piores condições do que aquelas que acabo de relatar. Coisa bem diferente de uma parte significativa dos seus compatriotas, que foram incomodados com jogadas palacianas na política portuguesa e a quem agora dizem para voltar a pôr a cabeça no travesseiro.
Olhemos para o dia de ontem e para a entrevista de António Costa na TSF. O primeiro-ministro chutou para canto todas as perguntas sobre a polémica relativa ao Novo Banco e a zanga de comadres que envolveu o chefe do Governo, o inquilino do Palácio de Belém e o homem que tem a chave do cofre no Terreiro do Paço. Em que baseou Costa esta indisponibilidade para prestar contas aos portugueses? Na certeza de que sabe muito bem o que preocupa os portugueses. Para além da saúde e das finanças pessoais, os portugueses andam preocupados com a abertura das creches, garante o primeiro-ministro. E os 850 milhões de euros para tapar buracos no Novo Banco?, insistia o jornalista. Já não interessa para nada, sentenciava o primeiro-ministro, na certeza de que não há nada a fazer, porque o cheque já foi entregue.
Preocupados com a saúde, com a economia e com as creches, também não parece possível que os portugueses queiram saber se Marcelo vai ou não ser novamente candidato a Belém. Pois não, garante o chefe de Estado, também ele preocupado com as preocupações dos portugueses em relação ao andamento da economia. Mas se foram os principais protagonistas da política portuguesa que açambarcam o espaço mediático para falar de coisas que não interessam aos portugueses, o que podem os portugueses esperar? Se Marcelo e Costa andam ao sabor do vento, os portugueses só têm de levantar as mãos aos céus e suplicar para que o vento sopre na direção certa.
Parecem os puristas que, com o regresso do futebol, escolhem exatamente o tema futebol para dizer que os portugueses não precisam de programas de futebol. Só não gastam uma linha é a explicar porque falam de futebol se ele não interessa a ninguém e porque é que os programas de futebol são os que têm maior audiência.
*Jornalista