A notícia até parecia "fake" ou ter sido posta a circular por um hacker. Mas, infelizmente, não. No decorrer do primeiro exercício a nível nacional para testar o grau de preparação de várias entidades públicas e privadas a um ataque de piratas informáticos, o coordenador do Centro Nacional de Cibersegurança demitiu-se do cargo. A saída de Pedro Veiga não suscitou uma corrente de reações no meio político, tal como sucedeu com a demissão do comandante nacional da Proteção Civil, António Paixão, o que reflete, em grande medida, a pouca sensibilidade que o país ainda tem para as questões relacionadas com a cibersegurança.
Oficialmente, Pedro Veiga bateu com a porta a seu pedido. De acordo com o gabinete da ministra da Presidência, Maria Manuel Leitão Marques, a saída não estaria relacionada com "o seu trabalho". Mas Pedro Veiga, que é um dos pioneiros da Internet em Portugal e era o coordenador do Centro Nacional de Cibersegurança desde 2016, desmentiu a tese. Fala em promessas que não foram cumpridas pelo ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e reclama para o centro a gestão do registo de nomes de domínio "PT", que está nas mãos da DNS.pt, uma associação privada.
Estamos perante mais um novo caso evidente de falta de meios do Estado para garantir segurança de pessoas e bens? Sim. Fontes próximas do Centro Nacional de Cibersegurança apontaram a frustração de Pedro Veiga por não conseguir dotar o organismo com equipamento como razão para a demissão. Acresce que os especialistas em segurança informática são bem pagos no setor privado, com valores que o orçamento do centro para a contratação desses técnicos não consegue acompanhar. É o próprio diretor-geral do Gabinete Nacional de Segurança, almirante Gameiro Marques, que o admite. Pedro Veiga defende, e bem, que as verbas da DNS.pt poderiam resolver o problema do recrutamento.
Recorde-se que já em junho do ano passado, a propósito de um seminário sobre cibercrime, Pedro Veiga lembrava que os recursos financeiros destinados a esta área são limitados e destacava a sensibilização que estava a ser feita junto das instituições. Não teve sucesso. Agora, demite-se, no momento em que a sua mensagem pode ser um grito de alerta.
Portugal saiu-se bem do ciberataque internacional sem precedentes que, em 2017, afetou 300 mil computadores em 150 países. Esperemos que, como em dramas recentes, o país não tenha de correr atrás do prejuízo. É que o mundo virtual pode arder ainda mais depressa.
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