Sendo eu filho de um comerciante com negócios no ramo das duas rodas e afilhado de um ciclista, depressa a paixão pelas bicicletas passou a amor assolapado, ao ponto de os meus amigos irem para a praia (ainda hoje é assim, certo, querubins dos Algarves?) e eu ficar à espera da abertura da emissão da RTP - aí por volta das 17.30 horas há mais de três décadas -, só para perceber em que lugar o Joaquim Agostinho terminara a etapa na Volta a França. Chorei sozinho - de alegria, pois claro -, na sala sombria da minha casa quando vi as imagens dele a ganhar no topo Alpe d'Huez; vibrei com as vitórias do Acácio da Silva, do Orlando Rodrigues, do José Azevedo... E quando não havia portugueses na estrada, babava-me com o meu desportista preferido, o Lance Armstrong, que entretanto passou a ser o meu batoteiro preferido, sendo que isso são contas de outra conversa. São 40 anos a saborear ciclismo. Todos de emoções fortes e únicas. Mas já não preciso de me esconder na sala, ou de desviar o olhar do meu Rui quando proezas como as do João Almeida e do Rúben Guerreiro são mais fortes do que este jeito durão - a máscara ajuda a que não me caia outra máscara, até no meio da Redação.
*Jornalista
