Carros empilhados nas ruas, árvores no chão, correntes de água atulhadas de objetos envoltos em barro são as imagens de Valência. Um ano de chuva caiu em poucas horas e fez cerca de 220 mortes e mais de 1900 desaparecidos.
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A cidade foi construída num leito de cheias e há séculos que se projetam obras para conter o rio Túria e a sua força. Várias vezes a cidade foi inundada por cheias devastadoras e a última foi há 60 anos, com muitas mortes, projetando o desvio do rio.
Mas diversas cidades têm enfrentado tragédias similares, como Veneza, Houston, Mumbai ou Tóquio. Estes eventos são muitas vezes impulsionados por mudanças climáticas, que estão a intensificar a frequência e a severidade de fenómenos meteorológicos extremos.
Precisamos de construir cidades colete salva-vidas, com um novo planeamento urbano que defina mais do que a organização do uso do solo, onde desenhamos ruas, colocamos edifícios e fluxos de mobilidade. Hoje temos de planear cidades assentes em modelos funcionais e sustentáveis. Como poderemos salvar as cidades em leito de cheia? Deixá-las continuar a aumentar, como se tem feito, ou limitar o seu crescimento? Algumas cidades não terão de mudar de lugar?
Há muito que a ciência nos diz para respeitar as zonas de risco, como áreas costeiras e falésias ou lugares de secas, erosão, incêndios e sismos, onde já são notórios eventos de risco.
Iremos continuar a socorrer tragédias, mas são urgentes soluções concretas, com investimentos capazes de prevenir o futuro a 30, 50 e 100 anos. É certo que as cidades colete salva-vidas resultarão de decisões dramáticas, mas os desafios de hoje exigem decisores fortes e carismáticos.