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Num país centralista com duas grandes áreas metropolitanas, damos pouco valor às cidades médias. Sobrevalorizarmos as dualidades litoral-interior e urbano-rural, a competitividade face à coesão e, desde a capital, a escala europeia face à nacional, só piora. Os grandes equipamentos e eventos concentram-se em Lisboa. E em segundo lugar no Porto. Todavia, as cidades de média dimensão asseguram um papel fundamental no desenvolvimento. É de notar aí, por exemplo, um razoável equilíbrio entre os bens e serviços locais com os que proveem de várias partes do mundo. Ao mesmo tempo, as instituições parecem articular-se melhor com a envolvente, não deixando de haver relações com lugares distantes.
São também algumas destas cidades que, invariavelmente, aparecem em rankings de avaliação associados à qualidade de vida: Aveiro, Braga, Castelo Branco, Coimbra e Évora são as cinco melhores de acordo com a DECO. Além disso, como Joaquim Oliveira Martins há dias fez notar no 7º encontro P3DT que decorreu em Viana do Castelo, estas cidades podem beneficiar dos efeitos de convergência face aos espaços mais inovadores e dos efeitos de aglomeração pela existência de uma certa concentração de pessoas e instituições.
Há pouca dúvida que o futuro do "interior" e do rural - assim como do litoral entre espaços metropolitanos - passa, em grande medida, pelas cidades médias, dado o seu papel de intermediação entre o rural e as metrópoles, além de articulação de escalas. Quando já diminui a população em todo o país e não só no interior, não era tempo de existir uma política de cidades capaz de as reforçar no sistema urbano nacional? De que esperamos para diminuir a pressão sobre as metrópoles e de sermos mais exigentes no dinheiro que se gasta em lugares sem gente?
* Geógrafo e professor da Universidade do Porto