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Quando a cidade adoece, a mente sufoca. Quando a cidade respira, o cidadão floresce. As doenças mentais não nascem apenas dentro de nós. São também fruto das ruas que percorremos, do ar que respiramos, do ruído que suportamos e dos lugares onde (não) convivemos.
No Congresso da Red de Ciudades que Caminan, realizado na semana passada, em Espanha, o psiquiatra José Luis López, em tom firme e determinado, lembrou que as cidades estão "inflamadas" e que essa inflamação passa para o corpo e para a mente de quem nelas habita. Recordou, ainda, que 80% das consultas de medicina familiar não têm origem no código genético, mas no código dos estilos de vida.
A cidade que inflama transforma os seus habitantes em vítimas silenciosas: ruído excessivo, filas intermináveis de tráfego, ruas sem sombra, bairros sem jardins, lugares feios e inseguros são ingredientes de uma verdadeira inflamação social. Em contrapartida, a cidade que desinflama cria encontros, autonomia, calma, ritmo humano e felicidade.
López apresentou a regra 3-30-300: ver três árvores da janela, viver em bairros com 30% de verde e ter um parque a menos de 300 metros. Quando isto não acontece, o risco de sofrimento psíquico dispara. O ambiente urbano é determinante na modulação dos fatores psicossociais e neuroendócrinos. A depressão pode ter a ver com não respirar ar puro, não caminhar, não apanhar sol.
Em Barcelona, verificou-se que o aumento de 13% dos espaços verdes levou à redução do consumo de fármacos antidepressivos em crianças. Assim, é urgente que os municípios integrem indicadores de bem-estar psicológico no planeamento urbano.
Cuidar da cidade é, hoje, a forma mais profunda de cuidar da mente.