As alterações climáticas, a degradação dos oceanos e a perda da biodiversidade, a alimentação, a energia, os transportes, a gestão das grandes cidades, as desigualdades sociais e a saúde estão entre os grandes desafios do nosso tempo.
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São problemas globais, políticos e científicos. Para superá-los, não basta atuar numa única parte do planeta, a nível local ou nacional; é preciso atuar de forma cooperativa em todos os continentes. Para compreendê-los, não basta recorrer a um campo de conhecimento; é necessário combinar várias disciplinas.
Essas dificuldades e a urgência com que as ações são necessárias tornam a partilha aberta e transparente dos resultados científicos numa necessidade. A divulgação da ciência contribui para uma sociedade mais livre e informada, para a democratização do conhecimento e para a consolidação da cidadania.
Até ao início deste século, a comunicação dos resultados científicos foi maioritariamente realizada através de revistas especializadas de acesso pago. Os autores submetiam livremente os seus trabalhos para publicação. Como publicar não tinha custo, era o mérito do trabalho, e não a bolsa do investigador, que determinava a aceitação ou rejeição da comunicação. Por outro lado, o acesso às revistas implicava custos importantes.
O movimento Ciência Aberta, que surge no início deste milénio, veio defender o acesso ao conhecimento científico sem restrições ou custos. Se a ciência é produzida em boa parte através de financiamento público, o acesso livre aos resultados deveria ser um direito de todos.
Contudo, a implementação destas políticas teve impacto perversos no modelo de publicação científica. Há revistas que são de acesso totalmente livre, sem qualquer custo para autores ou leitores; outras, que disponibilizam os artigos em repositórios de acesso aberto após um período de carência; mas há também muitos outras que para disponibilizar os artigos gratuitamente exigem aos autores uma taxa.
As principais editoras foram nesta última direção. A imposição de taxas pode tornar a publicação nalgumas revistas algo que depende mais dos fundos a que o autor tem acesso que da importância da sua investigação.
Para o cidadão, as taxas constituem um pagamento duplicado. A produção de conhecimento já custa dinheiro público atribuído a projetos. Por que razão é necessário pagar outra vez para publicar os resultados? As taxas parecem ainda mais absurdas quando percebemos que os vários intervenientes do processo de publicação - autores, revisores e editores - trabalham sem receber das editoras qualquer compensação financeira pelo seu trabalho.
A investigação científica resulta de um trabalho colaborativo e muitas vezes sem retorno financeiro imediato. É importante garantir que os resultados desse esforço sejam acessíveis a todos, sem criar barreiras financeiras para o acesso à ciência. Todos saem a ganhar: a comunidade científica e os cidadãos.
Vale a pena pensar nisso.
*Reitor da Universidade de Aveiro