<p>Dizer algo de bem da acção deste Governo é temerário. Merece logo desconfiança. Ou porque se trata de mais uma acção de marketing da prodigiosa máquina de propaganda em que este Governo se tornou famoso, ou porque é mais uma posição de um prosélito tão fanático que, nem agora com um Governo a afundar-se, não consegue discernir o amontoar de indesmentíveis erros e falhanços.</p>
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Terminou, ontem, no Centro de Congressos de Lisboa, o "Encontro com a Ciência e a Tecnologia em Portugal" que, talvez por isso - as razões que evoco atrás - não teve o eco que merecia na mediação dos acontecimentos que revelam uma das facetas positivas de um Portugal a caminho do futuro. O evento, promovido pelo CLA (Conselho dos Laboratórios Associados), pela FCT (Fundação para a Ciência e Tecnologia) e pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, e ainda pela Agência de Ciência Viva, teve o seu contorno oficial e político, mas constituiu, sobretudo, um grande momento de afirmação dos cientistas deste país e um prestar de contas daquilo que têm produzido com os seus talentos, competência e meios proporcionados.
Efectivamente, se há uma área de actividade em que Portugal, nestes últimos 20 anos, deu um salto, foi na ciência. Não gosto de embarcar facilmente no sortilégio dos números. Estes, estatisticamente, valem sempre pelo que se lhes mete lá dentro. Mas, são um dos modos de fazer medições e avaliação do antes e agora. Sem concorrer para enfadar os leitores com os indicadores disponíveis do balanço do andamento da actividade científica, bastará referir de forma breve alguns: em 1982, a despesa pública e privada correspondia a 0,28 % do PIB; em 2008, passou para 1,55 %. Em 1980, havia duas (!) patentes portuguesas registadas no Gabinete Europeu de Patentes; em 2008, 165. Em 1980, o número de investigadores era de 2660; em 2008, 40 mil. Estes números pouco representariam se fossem apenas para um consumo interno. Mas repercutem-se na internacionalização que, hoje, investigadores dos Centros e Laboratórios Associados, adstritos às várias universidades e às empresas portuguesas, em projectos comuns, com instituições de prestígio mundial, apresentam resultados científicos notáveis e a publicação de artigos em consagradas revistas.
Não deve ser temerário dar mérito aos cientistas e ao projecto de Mariano Gago, antes na FCT e agora no Governo. É um ministro pouco popular e muito introspectivo. Mas a obra está aí.
P.S.: Lamento o que se está a passar com a Cultura. Para a semana.