Corpo do artigo
Imagine que, para combater o crime, bairros inteiros eram classificados como zonas de risco nas quais as polícias teriam luz verde para intervir sem controlo. Ao abrigo desta decisão, os agentes poderiam invadir casas e utilizar drones para gravar e intercetar conversações sem para isso precisarem de autorização de um tribunal. O cenário não é mera ficção: a Eslovénia acaba de aprovar uma lei que o prevê, tendo na mira bairros de moradores ciganos. Nos últimos anos, foram várias as operações de força contra esta comunidade, mas um caso recente de homicídio em frente a uma discoteca, que provocou enormes protestos na rua, levou o parlamento esloveno a elevar a repressão para um novo nível.
Os sinais de fechamento e ódio na Europa têm sido mais do que evidentes. Leem-se nos pacotes restritivos das migrações e asilo que todas as semanas conquistam novos adeptos (a ministra britânica do Interior foi a última a anunciar medidas e a elogiar a Dinamarca). Sentem-se nos discursos divisivos contra minorias e nos programas de partidos que advogam a existência de cidadãos de primeira e de segunda. Os riscos que enfrentamos, na redução de direitos e na perda de comunidade, não são imaginários. Saltam à vista em iniciativas como a do Parlamento esloveno, que atira para trás das costas a proteção de direitos individuais e cede vergonhosamente à estigmatização. Resta saber como irá posicionar-se a União Europeia. E como iremos coletivamente resistir a discursos, propostas e diplomas que, cá como lá, elevam o medo à categoria de decisor.

