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Nos últimos meses tive o prazer de partilhar um programa de rádio na Antena 1 (e em podcast) com a Selma Uamusse, a Margarida Pinto Correia, o Afonso Reis Cabral, o Rafael Gallo, sempre com convidados à mistura. Chama-se Cinco à Quinta e termina por estes dias. Nas oito conversas que dinamizei, falei sobe o nosso tempo, o espírito da época e os grandes temas que, paralelamente, me ocupavam o pensamento no processo de criação de “Um gelado antes do fim do mundo”. Foi um mergulho profundo ter feito o caminho de criação de um disco, enquanto fazia um programa de rádio sobre as mesmas questões, conversando com pessoas muito interessantes e talentosas. Como quem está à procura das saídas de emergência para esta espécie de fim de mundo, com o privilégio da troca com dez convidados sensíveis e profundamente humanos.
Comecei com chave de ouro com Sérgio Godinho, para falar sobre resistência e sobre o papel da cultura como forma de contrapoder. Na segunda conversa, tive o prazer de receber a poeta e psicóloga Francisca Camelo. Falámos de feminismo, de saúde mental e da escrita como forma de expiar as injustiças do mundo e as dores da existência e, ao mesmo tempo, como megafone para as nossas causas. Depois, foi a vez do jovem músico Afonso Branco, um autoproclamado ludita, que falou sobre a sua difícil relação com as redes sociais, bem como dos seus embates com o mercado e com o estado do mundo, num tempo especialmente desafiante para os jovens.
No quarto programa tive a enorme honra de ter Regina Guimarães como convidada. Uma mulher das letras, cujo espírito livre sempre aproximou das crianças, das artes e da luta pelas liberdades. Falámos da importância da educação, como a verdadeira forma de transformar o mundo, sobre a necessidade de protegermos a poesia da infância e de trabalhar à escala local, como antídoto para a atomização social. Foi uma lição! No episódio seguinte, recebi dois artistas plásticos, Manuela Pimentel e João Alexandrino Silva, para falar sobre encantamento e sobre como a natureza, a arte, o exercício físico, as viagens e a curiosidade pelo outro podem ser atalhos para o lado poético da existência.
Emmy Curl (música e mulher do renascimento) foi a convidada do sexto programa para falar sobre futuro, sobre a relação entre natureza e tecnologia, sobre a sua fé na inteligência artificial e sobre o trabalho comunitário que desenvolve. Depois, foi a vez de Sara Barros Leitão, atriz, dramaturga, livreira e ativista, com quem falei do poder do teatro, de livros e de maternidade, bem como de resistência em tempos difíceis. E, finalmente, recebi Tota Alves (atriz e argumentista) e Inês Campos (artista de várias expressões), no fecho da temporada, para falar sobre a importância da colaboração artística, da sororidade e do espírito comunitário, numa era em que reina o individualismo e a ideia de coletivo parece estar fora de moda.
Foi uma bênção (e está tudo disponível para escuta, aproveitem)!