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Para não pensarem que invento aldrabices, transcrevo palavras do professor Sobrinho Simões: "Na Noruega, e na generalidade dos países nórdicos, no Japão e na Coreia do Sul, as pessoas recebem uma carta do Estado onde se reflecte sobre o livre-arbítrio, as pessoas podem decidir, em nome da liberdade, pelo fim". Isto é, o Estado sugere às pessoas que morram.
Lembrei-me disto quando visitei a Associação das Escolas Jesus, Maria, José ou Centro Comunitário do Monte Pedral. Fundada em 1902, numa zona operária, sob o lema “Ajudar faz bem” desenvolveu, desde então, uma intervenção cívica notável.
Pondo de parte a história da instituição e da sua capela (não chegava um jornal), refiro que dão apoio a cerca de 500 pessoas. O centro de dia acolhe 60 idosos (os "seniores"), 30 vivem isolados e vai uma carrinha buscá-los, de manhã, passam lá o dia e levam-nos à noite a casa, com a ceia. Possui Cantina Social para carenci-ados, a quem fornecem almoços e jantares. Dão ajuda domiciliária à população dependente. Estão a instalar uma Incubadora Social, para jovens desempregados e uma Estrutura Residencial Intergeracional, para 14 estudantes e quatro seniores. Organizam passeios culturais e de convívio. Distribuem o cabaz alimentar a famílias em dificuldades. E outras coisas.
Na entrada do edifício, lê-se: "Nasci com a viagem marcada / Para quando, ainda não sei. / Do que tenho não levo nada / Só levo aquilo que dei". Eis a filosofia desta gente, que gosta do que faz. E pus-me a pensar: afinal, quem é civilizado, os que propõem injecções letais aos descartáveis ou quem os acarinha e alimenta?
* Professor e escritor
O autor escrever segundo a antiga ortografia