Fundado há quarenta e oito anos, oPPD/PSD elegeu ontem o seu 19.º presidente. Nunca nada foi fácil, contrariamente ao que se pode pensar, na vida do PSD. Nada lhe caiu de mão beijada no colo.
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O próprio fundador Francisco Sá Carneiro levou quatro anos até ter o partido na mão. E mais um para, através do voto popular, "fundar" a Direita democrática numa Aliança com o mesmo nome. É um partido em que as elites conseguiram simultaneamente estar, umas, com o partido no Governo e as outras contra o Governo, cá fora. Sucedeu assim com Balsemão e no "bloco central". A imposição de uma figura com a autoridade política ímpar que lhe adveio de uma imensa tenacidade pessoal, por um lado, e do voto popular, por outro, como Cavaco Silva, talvez tenha sido mais um momento de excepção do que uma característica partidária. No PSD conviveram sempre muitos PSD"s e egos demasiado exacerbados para o que se pedia. Quando acaba um congresso e se espirra "unidade" por todos os cantos, já se sabe que é mentira. Depois de Cavaco, só foi possível o poder com coligações pós-eleitorais. E, destas, só a presidida por Passos Coelho perfez uma legislatura depois da bancarrota socialista de 2009-2011. Rui Rio quis mostrar que era possível fazer oposição ao PS "namorando" com ele. Levou quatro anos neste disparate. Sonhava ocupar o lugar do PC e do Bloco no coração político frio de António Costa. Inventava "reformas" que o PS nunca quis, nem quer, fazer. Perdeu tudo o que havia a perder para o PS, salvo nas ilhas. De tanto sonhar com a "moderação" do chefe socialista, ele e Marcelo acabaram por lhe permitir a maioria absoluta de Janeiro com que Costa brinca agora à vontade, como se viu com o Orçamento. Ora este é precisamente o ponto onde tudo começa ou acaba para o PSD. A ambiguidade e a pusilanimidade diante do PS separaram sempre as águas no PSD desde 1974. O PSD cresceu e mereceu a confiança do país sempre que houve clareza na identificação do adversário. Foi assim em 1979, em 1985, em 1987, em 1991, em 2002, em 2011 e ainda em 2015 apesar do golpe palaciano das esquerdas. Quando cedeu ao adversário, perdeu. Rio deixa um partido arrumadinho no "livro dos registos", mas politicamente débil naquilo que interessa. É o segundo partido nacional, todavia logo seguido por outros dois que a leveza de Rio permitiu se criassem e florescessem. Agora não adianta desprezá-los ou ignorá-los. Um PSD capacitado para federar a alternativa de poder ao socialismo imoderado do PS é o grande desafio político, cultural e social que espera o seu 19.º presidente fortemente eleito pelas bases. Quem quiser e puder, não deixe de ajudar o Luís Montenegro. Ele sabe perfeitamente qual é a clareza meridiana que separa e une.
*Jurista
O autor escreve segundo a antiga ortografia