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Os portugueses estão bem informados sobre a vida política. E não se deixam enganar com facilidade. Desinteresse ou aversão não são sinónimos de desconhecimento. Como mostram os resultados do barómetro da Pitagórica que o JN está a publicar por estes dias, perceberam muito bem a razão pela qual o país vai para eleições antecipadas e são por isso capazes de distribuir as responsabilidades de forma proporcional.
Quando têm de escolher apenas uma força política a quem apontar o dedo, a Aliança Democrática, que suportou o Governo cessante, surge em primeiro lugar (46%) e só depois o PS (28%) e o Chega (8%). Quando se pergunta sobre se era responsabilidade do Governo retirar a moção de confiança e evitar eleições, uns esmagadores 70% dizem que sim. Se a questão for dirigida ao PS, reduz-se para 48%, e no caso do Chega, o terceiro maior partido, para 33%. É mesmo caso para dizer que revelam uma clarividência matemática.
A culpa é em primeiro lugar de Luís Montenegro e do PSD (porque se derrubaram a si próprios), num patamar secundário de Pedro Nuno Santos e do PS (porque deles se espera que sejam mais do que um partido de protesto), e finalmente de André Ventura e do Chega (porque têm a força dos números mas não se espera que sejam os radicais de Direita a garantir estabilidade).
Arrumada esta questão, e tendo em conta outros resultados, o barómetro também ajuda a perceber que uma coisa é distribuir responsabilidades, outra bem diferente é que isso justifique uma mudança de rumo. Os portugueses podem estar descontentes com o beco sem saída em que se enfiou o advogado Luís Montenegro, mas não estão insatisfeitos com as políticas do primeiro-ministro e do seu Governo. Não o suficiente para o substituírem por Pedro Nuno Santos e o PS. Pelo menos por agora.