Quando soube que Margarida Fonseca Santos, autora da peça "A filha rebelde" (adaptação do livro homónimo de José Pedro Castanheira e Valdemar Cruz) e dois ex-directores do Teatro Nacional D. Maria II iriam hoje a julgamento em Lisboa acusados de difamação e ofensa à memória do major Silva Pais, responsável máximo da PIDE de 1962 a 1974, admiti que na referida peça tivessem, de facto, sido ditas coisas vergonhosas sobre o homem, sei lá, que ele, por exemplo, seria um entusiasta da Declaração Universal dos Direitos do Homem ou que a PIDE, enquanto foi seu director, nunca perseguiu, torturou ou matou quem quer que fosse.
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Afinal descobri por uma notícia da Lusa que os sobrinhos de Silva Pais que propuseram a acção se queixam de que, na peça em causa, haverá três falas onde se "insinua" o envolvimento do seu digníssimo tio no assassinato, em 1965, do general Humberto Delgado às mãos da PIDE.
Argumentam os sobrinhos que Silva Pais, acusado de co-autoria moral do crime, nunca chegou a ser condenado (nem absolvido) já que morreu uns meses antes da sentença do tribunal que julgou o caso.
É um excelente argumento. Ressalvando as devidas distâncias, que nele meditem os que por aí dizem coisas feias de, por exemplo, Átila, o Huno, Hitler, bn Laden ou o guarda-redes Roberto do Benfica, que também nunca foram condenados (que se saiba, nem por uma simples multa de estacionamento) em qualquer tribunal.