Corpo do artigo
Também as há! E é verdade que estamos muitas vezes demasiado focados nos problemas, nas contradições, nas perplexidades. É claro que são sempre assuntos muito importantes, para nós e para o país, aqueles que nos obrigam a uma reflexão mais profunda. E essa, quase sempre nos obriga a franzir o cenho.Mas também tropeçamos em coisas boas e devemos falar delas. Para mantermos a esperança e para nos motivarmos uns aos outros.
Dei por mim, esta semana, a olhar com interesse e empenho para uma ideia, um produto e um caminho.
Primeiro a ideia. Li-a neste jornal e já não é nova. Mas desta vez parece que está a ser levada a sério. Os presidentes do Porto e de Gaia estarão a pensar avançar para a travessia pedonal do rio e para a implementação de um serviço de táxis fluviais entre ambas as margens.
É uma ideia excelente e o facto de estar a ser desenvolvida sem grandes parangonas, anúncios e promessas é bom augúrio. Trabalhar primeiro e mostrar a obra feita, pode finalmente convencer-nos da credibilidade, pelo menos destes dois agentes políticos.
São inúmeros os exemplos internacionais que nos mostram como este tipo de projeto pode inclusivamente tornar-se um ex-líbris da arquitetura e engenharia de uma cidade. Estou a lembrar-me por exemplo da ponte do Millennium, em Londres, que liga a City à Tate Modern, humanizando o capitalismo desenfreado dos corretores ou deslumbrado os visitantes que por ela acedem à antiga central de produção elétrica.
Pôr ambas as margens do Douro, na cota baixa, à distância de umas quantas passadas, em travessia exclusivamente para peões é um projecto afectivo, que une, que abraça, que alarga ambas as cidades, afinal tantas vezes faces da mesma moeda.
Amplificar a passagem com táxis fluviais, descendentes dos românticos "vaporettos", ainda torna mais ligeiro este abraço, devolvendo ao rio o corre-corre de outros tempos. Não podemos é esquecer a medalha à teimosa "Flor do gás" que dia após dia se passeia no Douro, de 15 em 15 minutos, das 6 horas às 22. Há mais de 70 anos.
Espero que o projeto avance. Estão e estarão de parabéns Rui Moreira e Eduardo Vítor.
Agora o projeto. Não muito longe do cais do Ouro, mesmo em frente à Alfândega, do lado de Miragaia, encontrei e visitei um novo museu/parque temático. Fiel às atuais tendências de aprendizagem pela interatividade e experiência, o "World of Discoveries" exclusivamente dedicado aos descobrimentos portugueses é um exercício contemporâneo e inovador que integra um vasto período de tempo através dos seus marcos mais relevantes e predispõe os mais interessados a uma descoberta mais aprofundada dos temas, "in loco", através da exploração completa das bases de dados multimédia disponíveis ou noutros lugares e suportes que hoje por todo o lado nos rodeiam.
Conta com uma equipa muitíssimo bem treinada. Conhecedora do que apresenta, simpática e diligente. Com serviços de apoio a funcionar desde o primeiro dia (loja, cafetaria e restaurante). Por outro lado, e uma das coisas mais importantes, a maior parte dos fornecedores, das soluções multimédia, às aplicações interativas, passando pelos fatos de época convincentes e bem confecionados, são empresas ou organizações portuguesas. A comprovar que temos nichos de ponta sérios e competitivos.
Sejam quais forem os comentários negativos apressados que certos críticos da capital não deixaram e não deixarão de tecer, Mário Ferreira foi, também aqui, inovador e, como sempre, não hesitou em fazer primeiro no Norte mesmo ao pé do Douro que desbravou.
Depois o caminho. Mais um 13 de maio. Este ano cerca de 35 mil peregrinos rumaram a pé ao Santuário. Não deixei de reparar com interesse no reforço muito expressivo de militares e agentes das forças da ordem ao serviço da segurança dos peregrinos. Por outro lado, e também muito importante, sobressaíram os esforços das câmaras para encontrarem alternativas aos trajetos, sobretudo pela Estrada Nacional 1, num esforço muito louvável de valorização de uma caminhada espiritual tão portuguesa e cada vez mais tão internacional.