1. Há dias, o JN realçou o facto de a cidade do Porto estar na moda e ser apontada pela imprensa estrangeira como um dos mais interessantes destinos europeus e, nesse sentido, colheu a opinião de vários estrangeiros que vivem entre nós e tentaram ajudar a decifrar o segredo que nos transforma num destino tão apetecível. Li as suas opiniões, e concordo com os aspectos que relevaram. De facto, a cidade do Porto é uma das mais baratas da Europa ocidental. Para isso contribui a oferta hoteleira e a restauração, que oferecem uma relação preço/qualidade quase imbatível. Também temos um bom aeroporto servido por voos directos que asseguram a ligação directa a inúmeras cidades europeias. Entrevistado pelo jornal, perguntaram-me qual a importância do aeroporto, e destaquei o facto de haver um efeito virtuoso entre a cidade e essa infra-estrutura. Ou seja, o aeroporto cresce porque a cidade atrai turistas; o turismo na cidade cresce porque dispõe de um aeroporto competitivo.
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Mas, independentemente dos baixos preços, e das boas condições logísticas, a que não é alheia a ligação por metro entre o aeroporto e a cidade realçada por muitos guias turísticos, o Porto só está na moda porque, nos últimos anos, houve uma extraordinária evolução em termos culturais. Uma evolução tão rápida, com um impacto tão profundo nos nossos usos e costumes, e na oferta que proporcionamos, que se traduziu numa verdadeira revolução. Há quem lamente que este desenvolvimento cultural seja espontâneo e informal, porque não resulta de políticas promocionais nem depende de incentivos, mas creio que é esse o segredo do seu sucesso e do seu impacto cada vez mais transversal na cidade porque decorre de iniciativas individuais. Ou seja, a oferta cultural que a cidade proporciona não depende do investimento público, o que é uma vantagem, numa altura em que este está condicionado pela crise.
Esta espontaneidade, assinalada pelas revistas internacionais, faz do Porto, enquanto destino turístico, um improvável caso de sucesso, mas antes que nos seja possível cantar vitória, e dormir descansados sobre os louros conquistados, devemos ter a noção de que as modas não são eternas. Por definição, são fenómenos efémeros. E, por isso, o Porto não pode deixar reinventar a sua oferta cultural, para defender todos os seus argumentos e instrumentos, e para corrigir, enquanto é tempo, aquilo que pode vir a inibir o seu crescimento como destino turístico diferenciado. Para isso, precisamos de uma política metropolitana coerente, tanto mais que os concelhos limítrofes beneficiam desta capacidade de atracção do Porto, que se vai transformando numa marca turística. A política metropolitana é necessária para harmonizar políticas de complementaridade - esquecendo o velho paradigma da concorrência entre municípios que tantos danos causou e que tantos recursos desperdiçou - mas, também, para exercer o necessário "lobby" para que haja mais instrumentos de promoção e para que não nos retirem instrumentos fundamentais, como é o caso do aeroporto Francisco Sá Carneiro.
2. Sobre o Estado ladrão, que aqui tenho denunciado, não posso deixar de relatar o mais recente episódio em que uns burocratas que nós patrocinamos me atacaram a carteira. Os meus primos que vivem há três gerações no Canadá têm o saudável hábito de enviar presentes de Natal para os meus filhos e sobrinhos. Atenção que, naturalmente, retribuímos. Neste ano, enviaram pelo correio alguns calendários e uma pequena colecção de moedas, que me pediram para distribuir pela família. E, como são gente de bem e cumpridora, incluíram o valor da mercadoria em causa. A verificação aduaneira aplicou, por isso, os respectivos direitos de importação, no razoável valor de 4,66 euros, mas não foi essa a conta final que me chegou. A conta final que me apresentou a Direcção-Geral das Alfândegas, e que paguei ao funcionário dos CTT, a incluir o IVA, os impressos, e outras rubricas, atingiu o montante de 54,42 euros... Já tive o cuidado de informar os meus primos de que o presente foi roubado. Não lhes quis dizer que foi envenenado.