A explosão do desemprego é um problema político cujo combate cabe ao ministro da Economia, em primeira instância, mas cujas misérias cabe, em última instância, ao ministro da Solidariedade tentar atalhar. Neste binómio anticrise não restam dúvidas que a Solidariedade tem feito o possível e até o impossível e que a Economia tem estado refugiada no enunciado de reformas estruturais relacionadas com amanhãs que cantam, o último dos quais graças à ajuda do Ministério da Educação através do objetivo de ressuscitar o imprescindível ensino profissional, cujos frutos estarão no mercado daqui a uma década. Talvez....
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Acontece que, sendo um problema social que cabe ao Governo combater, ninguém tenha dúvidas que os desempregados acabarão por bater à porta dos autarcas. E, ou muito muda e vertiginosamente, ou a próxima campanha eleitoral para as autárquicas acabará, tal como o Ministério da Economia, capturada pela crise financeira.
Na lógica de todas as explosões sociais, os deserdados tenderão a exprimir o seu descontentamento junto do poder político que lhes está mais próximo. O mais provável mesmo é que sindicatos e centrais sindicais poupem nos custos das grandes manifestações dirigidas ao Terreiro do Paço e encaminhem os seus associados para exercícios de indignação em geografia de proximidade.
Esta perspetiva pode parecer sedutora para os partidos de oposição, mas duvido que o PS, cujas responsabilidades governativas ainda estão presentes na memória, possa retirar todo o proveito que à primeira vista possa parecer garantido.
Certo, isso sim, é que os candidatos às eleições autárquicas dos partidos da coligação no poder vão ver-se gregos para explicar que uma coisa é o Governo e outra é a Câmara Municipal. Em especial nos municípios em que também exercem o poder autárquico coligados.
Esta realidade parece-me muito evidente no distrito do Porto, onde o desemprego cresce acima da média nacional pelos 20,7%, segundo os dados do próprio Instituto de Emprego e Formação Profissional. E se olharmos este agravamento do desemprego mais de perto, ou seja, concelho a concelho, o problema apresenta faces piores: 34,1% em Matosinhos, 32,4% em Penafiel, 28,9 % em Paços de Ferreira, 28,6% na Maia, 27,6% em Paredes ou 26,7% em Lousada.
Por muitas contas que possam ser feitas sobre o desemprego refletidas algures fora destes municípios de origem, a verdade é que os autarcas do distrito e da Área Metropolitana do Porto vão levar com a crise às costas. Em especial aqueles cujos concelhos sofrem do efeito cumulativo das percentagens de crescimento do desemprego jovem, como os 76,2 % registados em Matosinhos, ou os 50,7 % em Penafiel ou ainda os 45,2% na Maia.
