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Ainda com sabor a ano novo, há iniciativas mobilizadoras que apostam em conceitos simples para resolver problemas complexos. O Ano Nacional da Colaboração, lançado pelo Fórum para a Governação Integrada, arrancou com mais de 200 ações e muitas dezenas de parceiros que pretendem mobilizar a sociedade portuguesa para a relevância estratégica da colaboração.
Quantas vezes nos queixamos das instituições, sobretudo as que dependem de fundos públicos, por sobreporem competências ou, ainda pior, não serem capazes de articular a sua ação facilitando a vida dos cidadãos? Foram surgindo projetos que contrariam essa tendência e entraram de tal modo nos nossos hábitos, que ignoramos a mudança que representam. As primeiras lojas do cidadão abriram em 1999 e fizeram a diferença a partir de uma ideia pioneira: reunir no mesmo espaço entidades públicas e privadas, num horário contínuo e alargado, facilitando a relação das pessoas e das empresas com os serviços públicos. Eis uma forma simples de resolver problemas complexos.
Se concordamos que é preciso trabalhar em conjunto e partilhar recursos, porque é tão difícil construir esse caminho? Colaborar não é intuitivo nem automático, e só abrimos mão do nosso domínio tendo consciência das suas vantagens. Os relatórios da OCDE mostram a dificuldade dos estudantes portugueses em trabalhar de forma colaborativa, preferindo a competição individual. Esse não será o futuro. Basta pensar na ciência para compreender que as grandes descobertas são resultado de pesquisa conjunta cada vez mais transnacional.
Três jovens investigadores portugueses divulgaram, em 2018, um modelo teórico que recorre a bases matemáticas para demonstrar como é possível criar elevados níveis de cooperação na sociedade ou nas empresas a partir de estratégias simples como a reputação individual alicerçada na capacidade de partilha.
O Ano Nacional da Colaboração junta parceiros muito diversos, desde ministérios setoriais, com destaque para a Educação, mas também a Economia, o Trabalho, o Ambiente, a Justiça, autarquias como Lisboa, Gaia ou Abrantes, e ainda sociedade civil, inovando através de projetos colaborativos e, sobretudo, contribuindo para uma mudança cultural que transforme as organizações. Tal como o Mundo é global, também os problemas implicam soluções transversais. Aprender a colaborar e perceber essa diferença leva-nos em direção a um necessário mundo novo.
*Professora universitária
