<p>Ao longo de cinco anos no Ministério dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado forjou de si próprio a imagem de diplomata nato. Económico na palavra e ponderado no gesto, produzia sempre intervenções que todas as partes subscreveriam. Dava vontade de decretar que o cargo lhe fosse entregue vitaliciamente. De súbito, transformou-se. O apelo a uma "grande coligação" não é, de todo, consensual.</p>
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Não interessa, para o caso, apurar se foi previamente combinado com José Sócrates (tudo indica que não foi), nem tão pouco medir a dimensão da coligação proposta - sendo "grande", que tamanho tem?; abrange só o PSD ou também o CDS?; ou todos ao molho e fé em Deus?
Luís Amado admite, em nome da necessidade de superar a crise, juntar os trapinhos com uma Oposição que - as palavras são suas - pratica um "tacticismo oportunista" e anda em "permanente campanha eleitoral". Parece uma estratégia convergente com a de Paulo Portas, partindo de pólos opostos, mas as aparências iludem.
O líder do CDS/PP deseja um Governo de "salvação nacional" - não pede uma "união nacional", porque ainda há quem tenha memória. Aceita tudo para se manter no "arco da governação" (mais na governação do que no arco, bem entendido), incluindo associar-se ao PS que tanto critica, na condição de José Sócrates ser expulso do jogo.
Já Amado procura - e nisso coincide com o primeiro-ministro - quem se disponibilize para partilhar as dores de parto de uma crise que vai agudizar-se ainda mais. Não lhe chega os PEC e os orçamentos de Estado concebidos a meias com o PSD; quer Pedro Passos Coelho amarradinho aos negros tempos que aí vêm, para não levantar cabelo.
O PSD percebeu quão envenenados são tais presentes e tratou de os rejeitar. Não que queira prolongar a travessia no deserto oposicionista. O que se passa é que na S. Caetano à Lapa anda toda a gente enebriada com o dia do "juízo final", lá para Maio de 2011, quando o partido tirar do bolso uma moção de censura para derrubar estrepitosamente o Governo. O melhor é o PSD perguntar a comunistas e bloquistas se estão mesmo dispostos a votar a favor. Só para não ter surpresas...