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Um par de horas no Aeroporto de Lisboa permite perceber a urgência de uma nova infraestrutura. Não há ali costura que já não tenha sido rebentada. Demorámos anos a consensualizar uma posição sobre a necessidade de um equipamento alternativo, mas como nenhum consenso dura muito tempo, eis que o caldo entornou mais uma vez, desta feita a propósito da fatura final do aeroporto Luís de Camões e de como ela vai ser fatiada entre privados e contribuintes.
Do princípio: a Comissão Técnica Independente que validou a escolha do Campo de Tiro de Alcochete apreçou a construção das duas pistas em cerca de seis mil milhões de euros. A ANA Aeroportos, que detém a concessão de grande parte das infraestruturas aeroportuárias nacionais até 2052 (e que será responsável pela empreitada), veio entretanto corrigir os valores, atirando o custo final para entre oito mil e nove mil milhões de euros. O Governo estima que a cifra real fique algures no meio.
Agora a parte de quem paga o quê: Miguel Pinto Luz, ministro das Infraestruturas, garantira que nem um cêntimo do dinheiro dos contribuintes seria derramado, versão corroborada pela ANA, mas parcialmente desmentida pelo ministro das Finanças, Miranda Sarmento. Soaram os alarmes. Poucas horas volvidas, Pinto Luz sentiu necessidade de reiterar, em comunicado, a convicção de que o novo aeroporto seria pago inteiramente pela ANA/Vinci. Ora, não obstante este ruído desnecessário criado por dois ministros que tinham obrigação de estar alinhados, ambos falam verdade. De facto, o novo aeroporto de Lisboa será pago inteiramente pela ANA/Vinci, o que não significa que a obra não vá ter custos diretos e indiretos para o nosso bolso. Os indiretos: as taxas aeroportuárias cobradas pela ANA/Vinci serão pagas pelos passageiros. Os diretos: as acessibilidades ao novo aeroporto, estimadas em centenas de milhões de euros, serão suportadas pelo Orçamento do Estado. Ou seja, por nós. Não há almoços grátis. Nem no Natal.