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Na semana passada recordei aqui os três D do 25 de Abril. Falemos hoje sobre os D que nos afligem: desemprego, défice, dívida e desigualdade. D que são uma consequência de um longo período de fraco crescimento, seguido de uma crise sem precedentes e uma política de ajustamento que, pela austeridade que impôs, parece ter acentuado ainda mais o tamanho daqueles D. Há saída? Há, chama-se crescimento. Mais crescimento reduz o desemprego e alivia o peso do défice e da dívida. Mais crescimento permite suportar políticas sociais que reduzem a desigualdade e a exclusão social.
Não há crescimento sem recursos produtivos nem projetos que os mobilizem para a criação de riqueza. Daí que o investimento seja uma fator decisivo de qualquer estratégia de crescimento sustentável. O investimento aumenta a capacidade produtiva, mobiliza os recursos, gera emprego, aumenta o rendimento e, consequentemente, promove a melhoria do bem-estar. Investir requer capital e envolve sempre um compromisso com o futuro, um futuro que desconhecemos mas relativamente ao qual podemos formar expectativas e avaliar os riscos. Se o presente gera demasiadas incertezas, então ensombra o futuro aumentando os seus riscos. Se as sombras forem muitas, a prudência aconselha a que não se assumam tais riscos e se adiem decisões. Ou seja, as incertezas do presente, na medida em que adiam investimentos, levam ao adiamento do futuro de que urgentemente precisamos.
Esta semana foi pródiga em notícias que alimentam incertezas.
As previsões da Comissão Europeia dão-nos conta de um futuro menos risonho. Em particular, sugerem que a evolução do investimento será das mais baixas no seio da UE. Uma má notícia para uma economia que precisa de investir para crescer.
A CGTP, a central sindical de influência comunista, anunciou uma jornada de luta para a próxima semana com greves e manifestações. Esta jornada em si não tem que ser um problema. Problemática é a postura de permanente reivindicação que promove um ambiente de instabilidade laboral e que impede reformas que melhorem o funcionamento do chamado mercado de trabalho. Esta postura não ajuda o país a reforçar e consolidar a confiança no seu futuro.
Por fim, fomos há dias confrontados, mais uma vez, com notícias de que o Bloco de Esquerda insiste na renegociação da dívida portuguesa e na nacionalização da Banca. Notícias que não ajudam a atrair capital, que adensam os receios externos sobre o país e que não promovem a tomada de decisões de investimento.
Perante tais notícias interrogo-me se o primeiro-ministro não estará a recordar a velha frase "com amigos assim, quem precisa de inimigos?"
*ECONOMISTA