Os discursos políticos em Portugal são sempre iguais.
Corpo do artigo
Genéricos, imprecisos, demagógicos.
E, no entanto, seguramente estudados e planeados pelos gurus do Marketing político.
O objetivo deve ser pôr o dito discurso a gerar as mais inúteis e neutras manchetes.
Claro que este ano, no recomeço de um ano cheio de ameaças, a coisa chama mais a atenção e cai, pelo menos a mim, muito, muito mal.
O discurso da rentrée política de António Costa podia ser o mesmo com covid ou sem covid.
O SNS precisa de investimento, as empresas de apoio à competitividade, as infraestruturas (sobretudo as viárias) de fechos de rede. Com covid ou sem covid.
A mensagem continua genérica. Uma passagem abrangente por todos os setores e mais um e por isso facilmente alinhada com todo e qualquer estudo. Incluindo o do professor Costa e Silva.
As promessas continuam imprecisas.
O tema do fecho de redes e das pequenas obras municipais, por exemplo, está longe de ter garantido o apoio dos técnicos de Bruxelas. Já foi muitas vezes tentada sem êxito. Por vários governos. Bruxelas convenceu-se que temos estradas a mais e não paga nem mais um km de velhas ou novas. E não vai ser o Orçamento do Estado a suportar os custos. Mas lá se nomeia Bragança e mais um ou dois sítios como quem conhece o pormenor e já lhe tirou as medidas.
O tom continua demagógico. A nova fase da descentralização, que não é carne nem peixe, arranca sem a fase prévia ter encerrado. Pior, arranca com o processo de transferência de competências para os municípios a ser uma monumental trapalhada. E, sinceramente, custa ouvir um homem inteligente dizer que a eleição das equipas diretivas das CCDR avança já para que os autarcas possam participar no processo de planeamento regional conducente à aplicação dos novos envelopes de fundos comunitários.
Sempre o fizeram. Há mais de quarenta anos. À volta da mesa nas CCDR.
A questão é garantir que o poder central reconheça e respeite as suas escolhas!
Analista financeira