O que vai na cabeça de Vladimir Putin? Não sabemos. A resposta é evasiva, mas é a possível. A guerra de propaganda entre Moscovo e Kiev, a que desde dezembro temos vindo a assistir, está pendurada nesta dúvida do tamanho do Mundo. Pode acontecer tudo e pode não acontecer nada.
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O grau de imprevisibilidade e desinformação é tal que já há reputados analistas que se alongam a questionar a sanidade mental do presidente da Rússia, depois de dois anos de pandemia em que se enfiou numa bolha, evitando mesmo reunir-se fisicamente com os seus ministros. Será o Putin pós-pandemia o estratega implacável de antes ou terá evoluído para um estádio de liderança irascível e destruidora? De novo: não sabemos.
Mas para lá das teorias da conspiração que ajudam a colorir o contexto desta revisitação de outros tempos, há uma evidência sem fronteiras: a guerra não começou e Putin já está a ganhá-la. Pela desorientação causada em todo o Ocidente; pela confrontação com a Ucrânia que ele nunca aceitou ser um território divorciado da Federação Russa; pela sobre-exposição global da força intimidatória do outrora império e do seu todo-poderoso líder. Talvez Putin nem precise de mobilizar os cerca de 190 mil homens que os norte-americanos agora estimam estar em prontidão nas imediações da Ucrânia (no que constitui o mais relevante movimento militar desde a Guerra Fria), talvez a sua estratégia seja apenas a de fazer desagregar aquele país por dentro, esticando a corda da tensão e alimentando o desejo das autoproclamadas repúblicas separatistas que juram obediência a Moscovo. Porém, no meio de tanto ruído mediático, não devemos esquecer uma lição recente: em 2014, quando a Rússia tomou a Crimeia, também foram poucos os que vaticinaram uma ofensiva militar. A dimensão é outra, é certo, mas com Putin é preferível esperar o melhor e temer o pior. Ele nunca foi um adorador da paz.
*Diretor-adjunto