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A tão badalada sensação de insegurança de que todos os políticos falam e que o Governo usa para justificar uma série de operações de grande envergadura e anormalmente musculadas não se combate com agentes de cara tapada e shotgun em riste, mas sim com homens e mulheres em farda normal a percorrer frequentemente as ruas a pé ou em carro-patrulha.
Que o primeiro-ministro, mais preocupado com equilíbrios políticos resultantes da ausência de uma maioria que lhe permita governar sozinho, tente piscar o olho a um eleitorado desejoso de um Estado musculado até se pode perceber. O que é difícil é compreender que responsáveis de órgãos de polícia criminal não sejam capazes de fazer o seu trabalho de forma independente e sujeita a critérios única e exclusivamente de ordem técnica e operacional.
Algo está errado quando a hierarquia de um órgão de polícia decide operações que parecem destinadas a satisfazer a tutela política. E, se assim não é, também se revelou incapaz de demonstrar, preto no branco, que tudo decorreu de forma correta.
O coro de reações - de aprovação ou desaprovação - a estas operações, principalmente a do Martim Moniz, diz muito sobre a nossa cultura democrática. E convém destacar que esta última foi apenas uma de várias ações policiais destinadas a combater a insegurança através de intervenções especiais.
Nesta altura seria precisa uma palavra mais forte do presidente da República. O “recato” nas operações policiais defendido por Marcelo Rebelo de Sousa há alguns dias pode não ser exatamente o que se observa nas imagens que foram divulgadas.