É comum encontrar nas instituições públicas situações desenhadas para garantir subornos que vão chegando aos destinatários em "cash" para evitar registos comprometedores. Muitas dessas situações são conhecidas no interior dos serviços, instalando um clima de impunidade que desmotiva quem trabalha com seriedade. Há uma forma para neutralizar essas enraizadas práticas.
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O esquema é elementar: o funcionário a quem é dada a função de contratualizar serviços externos combina com os fornecedores um orçamento sobrevalorizado, ficando a quantia excedente, descontados os impostos, para si. Esses subornos são entregues em forma de dinheiro que pode ser gasto em despesas pessoais do dia a dia, aplicado em investimentos que se fazem de forma progressiva ou depositado em contas de familiares e amigos. Quem trabalha próximo dessas pessoas percebe bem os labirintos que se constroem para determinados trabalhos serem entregues sempre às mesmas empresas com quem há relações de uma visível cumplicidade.
Os responsáveis políticos pelo setor público deveriam olhar com atenção para estas micro-realidades e tomar medidas para combater a pequena corrupção. Por exemplo, se anualmente se instituísse a obrigação de renovar fornecedores, independentemente das quantias em causa (há sempre forma de decompor despesas em montantes mais reduzidos), reduzir-se-iam certas relações de conivência que se vão solidificando com o tempo. Também seria adequado que o funcionário que escolhe quem vai fornecer determinado serviço/produto fizesse isso com mais outro colega e que essa equipa fosse mudada todos os anos. A vigilância mútua e a alternância dos lugares de decisão seriam certamente variáveis que imporiam mais transparência nos comportamentos e mais rigor nas contas públicas.
Enquanto não se fizer isso, lá vamos nós encontrando, nos lugares mais insuspeitos, as práticas do costume. Atualmente já não são as obras públicas e os rearranjos urbanísticos as iniciativas mais favoráveis aos subornos. Agora aposta-se mais em iniciativas imateriais para onde se podem contratualizar sucessivas campanhas publicitárias, recursos humanos para apoiar a organização de eventos, empresas de catering, de multimédia... E tudo isso é sempre apresentado como sinal de grande dinâmica das organizações que as promovem. Em muitos casos, resumem-se apenas a verdadeiros casos de Polícia.