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Gosto de comboios. Gosto do objeto, da carruagem, das linhas que pousam no chão, das paisagens, de sentir o som do apito, a musicalidade do movimento. E gosto, acima de tudo, de observar as paisagens a partir das suas janelas. Viajei, recentemente, pela Suíça para a descobrir, a partir do comboio, e visitar a linha que é Património da Humanidade. Confirmei que as várias línguas e culturas dos cantões não impedem a excelente governação da mobilidade e a pontualidade como um verdadeiro relógio suíço. Há bilhética integrada em todo o país e a preços atrativos face à qualidade do serviço, com informação online simples, intuitiva e precisa. Uma experiência a repetir! Em Portugal, não temos uma ferrovia forte, porque foram décadas de desinvestimento. As linhas foram-se reduzindo e, com elas, a oferta, a frequência, o conforto e a intermodalidade. Sendo Portugal tão pequeno, com excelente orografia e com uma história fantástica na ferroviária, o que falhou? Falhou o planeamento, a gestão da operação e a articulação. Temos uma organização complexa e pesada, com muitas empresas – Refer, CP, autoridades de transporte, ministérios – incapazes de se articularem. Um exemplo claro é não termos a informação centralizada numa única plataforma, tipo App, como acontece na Suíça, em que está tudo à mão de um clique num smartphone, reforçando a intermodalidade. Apelo a quem de direito que se continue a apostar na ferrovia como se estava a fazer nos últimos anos. Que seja musculada e uma das apostas da mobilidade no país.