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O mundo está tão improvável que os grandes protagonistas da política internacional são Donald Trump e Kim Jong-Un, os dois líderes com os piores penteados da história dos líderes mundiais. Não tenho memória de tão insólito embate ao nível do cuidado capilar, o que na verdade torna tudo ainda mais perigoso. O escalar de retórica nem parece real, antes parecem duas tresloucadas personagens de um desenho animado ou de um James Bond dos anos pirosos (lamento, fãs do Roger Moore e do Pierce Brosnan, mas não há um que se aproveite). Aquela foto de Kim Jong-Un, sentado à secretária a olhar para o míssil, é o sonho de qualquer produtor de memes. Os dois parecem ter sido escolhidos de propósito para estes dias em que tudo, o essencial e o superficial, se confunde e se enrola na corrente que nos distrai e empurra para longe da dureza dos factos.
E os factos são estes: a Rússia e a China esfregam as mãos e afiam as facas, enquanto os EUA vão exibindo, aos gritos, a sua descida ao abismo. Trump chegou ao ponto de se queixar de que entregam muito dinheiro à ONU (22% do orçamento da organização, o equivalente ao seu peso do PIB mundial). Pior: foi à assembleia que representa a união dos povos apelar ao nacionalismo de cada um deles. Mas é wishfull thinking dizer que tudo se trata apenas de um exagero de cartoon que vai terminar sem consequências. Não é, nem vai. Isto ainda agora começou.
*JORNALISTA