É para mim a reportagem do ano, o trabalho publicado por estes dias no "The New York Times", sobre o massacre de milhares nas ruas das Filipinas, permitido (e ordenado) pelo presidente Rodrigo Duterte. Nas Filipinas, segundo a determinação presidencial, é agora possível matar sem consequências todos os consumidores e suspeitos de tráfico de drogas.
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Só a polícia matou já 2 mil pessoas. O fotógrafo que assina a reportagem passou 35 dias no país e documentou 57 vítimas de homicídio em 41 locais diferentes. As fotos são tão trágicas quanto assombrosas. Os corpos são abandonados na rua, como estratégia para o medo. Duterte gosta. Disse até publicamente que já matou pessoas, por achar que eram criminosas. Sem investigação, sem acusação, sem julgamento. São traficantes, qual é o problema? Merecem morrer, não é? Não importa o como, o quando, nem sequer o se realmente foi. Não há direito a defesa, nem dever de apresentação de provas. Há suspeita, atira-se a matar. É tudo fácil. Hoje os traficantes, amanhã os de outra religião ou os opositores políticos.
Mas o mais preocupante é isto: o que se passa nas Filipinas é a execução do desejo que se ouve por aí em conversas de café ou que é escrito por grande parte dos leitores que comentam nos jornais ou nas redes. Entre estes não devem faltar quem aplauda o presidente filipino. Estamos no futuro, mas a ignorância é a mesma de ontem. E o perigo é o de sempre.
[A reportagem do NY Times pode ser vista aqui]
* JORNALISTA