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Todos sabíamos que Mário Soares não era, mesmo depois de tudo o que nos deu, um político consensual. Não é especialmente surpreendente. Ninguém que tenha vivido toda a sua vida sob escrutínio público e a tomar tão importantes decisões poderia ficar incólume. Embora eu até prefira personalidades assim. A unanimidade é aborrecida. Mas a raiva derramada no Facebook e nas caixas de comentários dos jornais contra Soares, os insultos gratuitos, as palavras horríveis que muitos lhe deixaram são o pior da natureza humana, em manifestação coletiva de cobardia, muitos a coberto do anonimato, todos a julgar-se a salvo de responsabilização. Esta semana, o alvo foi Soares, amanhã escolherão outro. O Mundo, porém, não pára e tudo se paga, inclusive a estupidez. Há caixas de comentários dos jornais, por exemplo, em que ao lado do nome é mostrada também a empresa onde trabalha o comentador. Fica o aviso para o autor do comentário "morreu o maior ladrao do pais um pulha ja devia estar a arder no inferno". Tenha cuidado. O seu patrão, que todos sabemos qual é, pode não gostar de estar associado a essa opinião e, pior, a quem não sabe escrever.
*Jornalista