De Norte a Sul e de Leste a Oeste, as armas alimentam os conflitos mais agressivos, promovem a violência e provocam todos os anos dezenas e dezenas de milhares de vítimas: mortos, feridos, órfãos, refugiados. Cerca de 60% das violações de direitos humanos documentadas pela Amnistia Internacional "envolvem o uso de armas ligeiras ou de pequeno porte". Nos últimos 20 anos, os conflitos armados provocaram mais de um milhão de mortos e cerca de duzentos mil civis foram vítimas mortais da utilização de armas de fogo por bandos criminosos. Este problema, infelizmente, não nos é estranho, e assume até dimensões bem preocupantes em Portugal onde se estima que existam "2,6 milhões de armas nas mãos de civis, das quais 46% são ilegais". Armas que são usadas, como bem sabemos, em assaltos, ofensas físicas, homicídios e toda a espécie de crimes.
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Em África e na Ásia, devido a convulsões sociais, perseguições e conflitos armados, o número de deslocados internos e de refugiados atinge a cifra assustadora de mais de 40 milhões de pessoas. Além dos civis - mulheres, homens e crianças - que fogem das áreas de conflito, ocorre ainda a prática revoltante da arregimentação de menores para integrar forças militares ou militarizadas, tropas governamentais ou bandos armados - a tragédia das "crianças-soldado". Catorze países ilustram esta prática obscena: o Afeganistão, a República Centro- -Africana, o Chade, a Colômbia, a República Democrática do Congo, o Iraque, Mianmar, o Nepal, as Filipinas, a Somália, o Sri Lanka, o Sudão, o Darfur, o Uganda e o Iémen.
Por tudo isso, três organizações internacionais - a Amnistia Internacional, a Oxfam e a IANSA (International Action Network on Small Arms) - lançaram uma campanha conjunta em defesa da aprovação pelas Nações Unidas de um tratado sobre o comércio de armas "que estabeleça normas rigorosas quanto às transferências de armas internacionais e responsabilize os fornecedores e comerciantes de armamento". Segundo os promotores da campanha, este tratado deve impedir que os governos realizem transferências de armamento sempre que se verifique a existência de um perigo real de este poder vir "a ser utilizado em violações graves da legislação internacional humanitária e de direitos humanos".
Em 2010, o valor total das transferências internacionais de armas convencionais ultrapassou os 59 mil milhões de dólares. Os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas são, com a Alemanha, responsáveis pelo fornecimento de 74% das armas transacionadas. Os dez maiores beneficiários do "negócio da morte", em 2009 e 2010, foram os EUA, a Rússia, a França, o Reino Unido, Israel, a Itália, a Alemanha, a China, a Irlanda e a Suécia. O "mercado de armas", à semelhança dos "mercados financeiros", é um dos setores mais "desregulados" da economia mundial. Apenas 25 países prestam informação sobre as entregas reais das transações que efetuam.
Contra este negócio escandaloso, está a correr uma petição, por todo o Mundo, até ao dia 17 de junho de 2012, para recolha de assinaturas. A Amnistia Internacional entregará as assinaturas recolhidas ao secretário-geral das Nações Unidas, para que este escândalo não possa continuar a ser cinicamente ignorado e para que a opinião pública internacional possa condicionar os resultados da conferência de negociação do Tratado, prevista para julho do corrente ano. Eu já assinei a petição. Aqueles que desejarem obter mais informações e associar-se a esta causa humanitária premente, podem fazê-lo no sítio da Amnistia Internacional em Portugal: