Comércio de rua: a oportunidade histórica
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Foi significativa a escolha do Porto para lançamento da medida Bairros Comerciais Digitais, uma linha de apoio inscrita no PRR para revitalização do chamado comércio tradicional. No quadro das grandes cidades portuguesas, o Porto é, sem dúvida, o melhor exemplo de prevalência das lojas de rua e dos serviços de proximidade, em detrimento da proliferação das grandes superfícies comerciais - aliás, muito recentemente, foi extinto mais um shopping na sua zona histórica.
Essa marca distintiva ficou, de resto, bem expressa na atribuição de financiamento aos dois projetos a que o município se candidatou: o eixo entre Santa Catarina e Sá da Bandeira; e a zona artística onde pontifica a Rua de Miguel Bombarda. Em comum, estes dois quarteirões comerciais beneficiam, hoje, da grande montra que representa o turismo no Porto e na região, sendo mesmo um aliado indispensável, não apenas para a sobrevivência do comércio já existente, mas para o aparecimento de novos projetos e de toda a dinâmica regenerativa que se conhece na cidade.
Sendo um forte aliado, o turismo não é, contudo, um seguro de vida para as lojas, galerias e cafés portuenses. Como já se viu no passado recente, e nada impede que aconteça no futuro, a não renovação dos espaços comerciais, a falta de investimento na oferta ou a inadaptação a novos públicos e hábitos de consumo podem comprometer a atratividade dos negócios e, a prazo, conduzir à sua extinção. É, pois, fundamental que os comerciantes persistam num caminho de modernização, assente na melhoria do ponto de venda e do atendimento, na qualidade dos produtos e serviços disponibilizados, na indispensável transição digital. Sem esquecer a salvaguarda do património, como bem exemplificou o café mais conhecido do Porto, ao adquirir recentemente o edifício onde está instalado.
Os comerciantes e pequenos empresários têm, neste contexto, uma oportunidade histórica para consolidar os seus negócios. O PRR e, em específico, esta medida de apoio à digitalização, são instrumentos que concorrem para esse fim, mas que carecem de concretização. Para começo de festa, anunciar 77 milhões é ótimo. Mas o que importa mesmo é que eles cumpram o destino que lhes está atribuído.